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CALIBRE DA SEMANA: 7,62x39mm

por Ricardo M. Andrade
8 Minutos de leitura

Sejam todos bem vindos a mais um calibre da semana. Desta vez falaremos sobre o calibre de um fuzil já falado e “refalado” aqui, falaremos hoje sobre o 7,62x39mm, calibre usado no famoso AK-47 e suas diversas variações.

No dia 15 de julho de 1943, o “Conselho Técnico do Comissariado do Povo para Armamentos” (Техсовет Наркомата Вооружения), se encontrou para discutir a introdução de um calibre soviético intermediário. Os planejadores soviéticos decidiram que este calibre deveria ser usado em diversos tipos de armas, assim como fuzis de assalto (na época ainda chamados de Rifle de Fogo Seletivo), carabinas semi-automáticas e metralhadoras leves. O trabalho de criar este calibre foi designado a NM Elizarov (H.M. Елизаров) com a ajuda de PV Ryazanov (П.В. Рязанов), BV Semin (Б.В. Семин) e IT Melnikov (И.Т. Мельников). Elizarov colaborou com alguns designers de armamento, incluindo: Fedorov, Tokarev, Simonov e Shpagin. Cerca de 314 calibres foram, teoricamente, considerados, antes de estreitar as seleções para 8 modelos que foram fisicamente construídos e testados. A maior parte do desenvolvimento do novo calibre foi em um lugar chamado “OKB-44” renomeado mais tarde para “NII-44”,  em 1949 passou a ser chamado de “NII-69”, e em 1966 se tornou a TsNIITochmash.

A primeira variação do novo calibre foi oficialmente adotada após completar testes em Dezembro de 1943, a ele foi dado o nome de 57-N-231. O cartucho deste calibre possuía 41mm de comprimento e era chamado, por isso, de 7,62x41mm. O projétil possuía 22,8mm de comprimento e tinha um núcleo maciço de chumbo. Esta munição se parecia muito com as futuras munições em 7,62x39mm, possuía um projétil no formato “Boat-Tail”. Após a munição ser “refinada”, a produção em massa deste calibre começou, em 1944.

Após testes mais detalhados, os resultados ficaram disponíveis, no mesmo ano do inicio de usa produção o calibre foi retirado para melhorar sua precisão e penetração. Inicialmente, o projétil “Boat-Tail” foi omitido porquê os designers soviéticos pensaram (de forma incorreta) que faria diferença na precisão apenas em tiros de longa distância, sendo  que o calibre passou a ser subsônico e a precisão nessas distâncias não tinha importância. Entretanto, testes mostraram que o projétil “Boat-Tail” na verdade melhorava a precisão dos disparos a curta distância, quando o projétil ainda estava em velocidade supersônica. Para manter a massa do projétil, após fazê-lo oficialmente “Boat Tail”, a ponta ogival da munição foi aumentada, fazendo que ela fosse mais aerodinâmica. para manter o comprimento total da munição, sua “manga” foi reduzida para 38,7mm que arredondado chegamos ao comumente chamado 7,62x39mm. O núcleo da nova munição era feito de aço de baixo carbono coberta por uma jaqueta de chumbo. O uso deste tipo de núcleo foi feito mais pelo desejo de reutilizar o material de alguns equipamentos industriais que fabricavam o 7,62x25mm Tokarev, além do que, fazia com que o projétil se fragmentasse mais. À esta munição foi dado o acrônimo de 7,62 PS (7,62 ПС), aonde o S significa Substituto (суррогатированная), porém, mais tarde, foi usado para se referir ao material que seu núcleo era feito, Aço. O 7,62x39mm finalmente supriu todas as exigências do GAU nos meados de 1947, quando foi produzido em série e a ele foi dado o nome oficial de 57-N-231S.

A munição que foi finalmente selecionada pelos soviéticos possui mais similaridades com a munição GECO usada na Vollmer M35, do que com a munição usada na STG-44. Alguns autores, como C. J. Chivers, especularam que os Soviéticos tiveram acesso aos projetos da GECO e da Vollmer durante 1940, quando Hitler permitiu que diversos engenheiros russos fizessem uma visita a diversas fábricas de armas alemãs. Anthony Williams, entretanto, diz que a munição M43 Russa era tão diferente que era para desconsiderar a ideia de cópia de qualquer calibre alemão da época.

A 57-N-231S possuía a cápsula bimetálica, ou seja, era feita de cobre e chumbo. Nos anos 60 a cápsula de metal foi introduzida e chamada de 57-N-231SL. Mas para simplificar a terminologia, a 57-N-231SL é chamada apenas de 7,62x39mm, independente do material usado para fabricar suas cápsulas ou qual o tipo de núcleo usado.

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7,62x39mm PS

Em meados dos anos 50, o time de Elizarov’s, agora trabalhando na NII-61, desenvolveu um projétil sub-sônico especial para a 7,62x39mm. Foi adotado para serviço em 1962, e foi dado a nomenclatura militar de 7,62 US (As siglas US significa “Velocidade Reduzida” – уменьшенной скоростью). O projétil sub-sônico foi considerado mais longo (33,2cm) e pesado (231 grains) do que a munição PS, e possuía também um núcleo que não era feito em camadas, era feito núcleo era feito totalmente de aço, seguido por uma seção feita totalmente de cobre, e possuía uma diâmetro de 7,94mm comparado as outras 7,62x39mm que possuíam 7,92mm, seu diâmetro era maior para que pudesse ficar mais justo ao cano da arma. Esta munição foi feita para ser disparada do AK-47 equipado com silenciador PBS-1, desenvolvendo uma velocidade de 285-300 m/s. Para ser reconhecida mais facilmente, esta munição tinha sua ponta preta  com uma faixa verde abaixo.

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7,62x39mm BP

Depois de 1989, a munição padrão PS passou a ser produzida com núcleo de aço e uma maior concentração de carbono, submetida a tratamentos de calor. Esta mudança melhorou 2x sua penetração. Não é possível distinguir esta nova PS das antigas, exceto pelo ano de fabricação. Na mesma época, munições com projétil de aço passaram a adotar velocidades normais, chamadas de BP, esta munição desenvolvida entre 1980 e 1990, foi adotada pelo Exército vermelho em 2002, sobre o nome de 7,62 BP. A munição BP possui até 3x mais penetração do que as anteriores, perfura os coletes balísticos russos com designação 6B5 até 250m, para diferenciar das outras sua ponta é pintada de preto.

VARIANTES

M43: A munição original Soviética, M43, possui um projétil “boat Tail” de 123 Grains, revestido por uma camisa de aço revestida de cobre e um núcleo de aço, e um pouco de cobre entre a jaqueta e o núcleo. A munição possui uma espoleta Berdan.

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Caixa de 7,62x39mm M43

De acordo com Martin Fackler, mesmo este calibre representando um grande passo, em comparação aos projetos anteriores, ainda é um calibre fraco comparado aos mais modernos 5,56x45mm NATO ou o 5,45x39mm, usado na AK-74. A total solidez deste projétil  faz com que ele tenha um único inconveniente, ele é muito estável, mesmo atravessando a pele, mas começa a desviar sua rota apenas a 26cm de penetração no corpo humano, o que reduz a efetividade do ferimento causado. Estes ferimentos são comparados aos mesmos causados por disparos de pistolas e revólveres sem usar munições expansivas. A não ser que acertasse pontos vitais, este calibre não causava, normalmente, ferimentos fatais, apenas ferimentos pequenos e de rápido tratamento.

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Caixas de munição 7,62x39mm M67

M67: Nos anos 60, a Yugoslavia testou uma nova munição para produzir ferimentos mais letais, projéteis mais rápidos e precisos que os M43. O projétil M67 é menor e possui a base mais achatada do que a do M43. Estas melhoras causaram a mudança no centro de gravidade do projétil, o que permitiu que ele se desestabilizasse ao penetrar apenas 17cm no corpo humano, causando um par de grandes cavidades, a uma profundidade suficiente para causar um ferimento eficaz. Quando a cavidade temporária se encontra com a área de saída da pele, um ferimento de saída maior é causado, o que demora mais tempo para curar. Além do mais, quando esta cavidade encontra com algum órgão, como o fígado, este órgão será necessariamente danificado. De qualquer forma, o potencial de ferimento da M67 é limitado a uma pequena cavidade permanente do tamanho do caminho que seu projétil causa ao entrar.

MUNIÇÃO COMERCIAL: A munição deste calibre que é oferecida para o mercado civil é a Jauetada, Soft Point, e Ponta Oca. As munições Soft Point e Ponta oca oferecem melhor precisão e expansão, respectivamente.

 

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2 Comentarios

JOSÉ RICARDO PÉREZ GIMENEZ 19/02/2017 - 19:33

Boa matéria … eu gostaria de saber se consigo alguns estojos desse cartucho para fins artesanais. Obrigado

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Sérgio Galdino de Barros 22/08/2018 - 22:33

Excelente post. Hoje em dia, parece que penetrar mais e atingir o alvo que se esconde atrás é mais vantajoso do que comparar o que levou um tiro que esmigalha 60% e outro que esmigalha 85%.
Como ninguém quer levar um tiro, ninguém vai optar por uma ou por outra munição, até mesmo o operador do fuzil que sabe que uma vez atingido o inimigo, isso representa uma baixa. Voltando à frente russa de 1.943, é pior levar um tiro e não morrer, gastando mais 2 para carregá-lo, do que cair despedaçado, como se por um canhão de 30 mm, e deixar os 2 carregadores ainda em combate.

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