A CBC está introduzindo aos poucos no Brasil, armas em calibre 6,5 Creedmoor (6,5x48mm). Trazendo primeiramente os rifles de ferrolho Mossberg Patriot, que foram vendidos diretamente de fábrica para os atiradores e mais recentemente os rifles Turqua da Ata Arms. Pelo fato deste tipo de munição ainda não ser fabricada no Brasil, sua introdução no mercado é lenta, mas com o anuncio de que em breve a CBC irá produzir e vender esta munição em solo brasileiro, com certeza esse tipo de armamento ganhará novos adeptos por essas bandas.
É difícil um calibre de arma longa que fuja da família .30 ganhar notoriedade e relevância atualmente. Nos últimos 120 anos praticamente os principais calibres utilizados, não só para caça mas também para tiros de precisão e tiro esportivo, são calibres desta família, como: .30-30, .30-06, .308 Win Mag, .300 Win Mag, .300 wethearby, .300 WSM e .300 AAC BLK. Os calibres .30 são, de fato, uns dos mais utilizados.
É claro que existem exceções, como por exemplo o calibre 7mm Remington Magnum, cuja aceitação é uma regra não escrita no mundo do tiro. Ele foi lançado em 1962 e esteve no top 10 dos calibres de fogo central utilizados para caça muitos anos. Outra exceção é o calibre com diâmetro diferente muito popular é o 7,62x39mm, que apesar de não ser muito popular no Brasil, também por dificuldades de acesso a munição nesse calibre, é muito utilizado nos EUA, justamente pelo excesso de munição excedente de algumas forças militares que acabam sendo vendidas a preços muito baixos no mercado americano e europeu. O calibre 5,56×45/.223 Rem. nem se fala, desde sua dotação tem sido um sucesso de vendas ao redor do mundo, tanto para caça, tiro esportivo e defesa.
Por conta disso, fazer com que uma munição cujo projétil possui diâmetro de 6,5mm, .260 ou .264, atinja sucesso absoluto em seu uso. Se sobressaia inclusive mais que calibres utilizados há décadas, não é uma tarefa fácil. Podemos falar, por exemplo dos excelentes calibres com projéteis nesse diâmetro, como o 6,5 Remington Magnum, que nunca conseguiu sair da faixa de largada após sua criação, e as tentativas de revive-lo falharam miseravelmente. O calibre .264 Winchester Magnum, que é um calibre forte com uma balística impressionante, mas que ficou à sombra do 7mm Remington Magnum, e nunca conseguiu se disseminar e ganhar a popularidade que merecia.
Existe também o calibre 6,5x55mm Swede, um dos mais populares calibres para caça de animais grandes na Europa, migrou para os EUA na década de 50 com a chegada de vários rifles Mauser nesse calibre.
E mesmo tendo um vasto histórico de uso, projetado no século XVII, teve uma carreira vitoriosa por décadas no meio militar, além de ter uma reputação impecável no meio esportivo, por ter sido utilizado por diversos medalhistas olímpicos, por conta de sua precisão incomparável, também sofreu com a “maldição” dos calibres 6,5mm e falhou ao chegar no topo da montanha dos calibres bem sucedidos nos EUA e consequentemente em outras partes do mundo. Assim como o .260 Remington e o 6,5-284 Norma.
O NASCIMENTO DO 6,5 CREEDMOOR
Normalmente é assim que nasce um calibre. Um fabricante de armas se aproxima de um fabricante de munição, na maioria das vezes as duas empresas fazem parte do mesmo grupo empresarial, e diz “Então, queremos lançar um novo calibre, e se você o fizer vamos produzir milhares de armas para apoiá-lo no mercado. Depois vamos fazer com que ele entre na moda e torcer para que os atiradores se atraiam por ele por tempo suficiente para que se mantenha no mercado.”
E de vez em quando um calibre diferente surge e ganha atração suficiente para se juntar ao grupo dos calibres padronizados pela SAAMI. Os calibres .243 Winchester Magnum e o .22-250 Remington são um bom exemplo disso. E mais recentemente tivemos o .338 Federal e o 6,5 Creedmoor que seguiram por esse mesmo caminho.
Entretanto, o 6,5 Creedmoor foi um pouco diferente. Nenhum desses cenários descritos acima se aplicaram a ele. Ao invés disso, ele nasceu de uma sessão de reclamação entre um atirador frustrado e seu amigo. O atirador frustrado era a lenda no mundo do tiro com Rifles de Alta Energia, Dennis DeMille. E seu amigo era Dave Emary, Chefe de Balística da Hornady Manufacturing, famosa fabricante de munições nos EUA. Isso aconteceu na Competição Nacional em Camp Perry – Ohio, em agosto de 2005.
“Aconteceu durante uma semana de competição com rifles. Dennis e eu estávamos compartilhando o mesmo apartamento (durante a competição) e no final do dia estávamos conversando, e ele me disse que estava ficando frustrado com o calibre 6mm XC.” Disse Emary. Apesar do 6mm XC estar ganhando algumas provas, ainda era um calibre não padronizado, sem nenhuma informação publicada sobre sua recarga. E sua munição frequentemente tinham as espoletas estouradas e quebravam extratores das armas por conta de recarga mal feita.
Os atiradores que utilizavam esse calibre frequentemente iam até DeMille para reclamar e pedir ajuda, muitas das vezes na linha de tiro enquanto ele estava competindo, pois a empresa em que ele trabalhava era a única que fabricava rifles em calibre 6mm XC.
DeMille chegou a falar com Emary que iria embora e abandonar a competição. Mas Dennis o convenceu a ficar, pedindo para ele pensar sobre tudo que ele queria em um novo calibre de alta energia. Na manhã seguinte DeMille deu a Emary uma lista com 7 pré-requisitos que o novo calibre deveria ter.
1. Ter o tamanho de um calibre que possa ser alimentado por um carregador, para podendo ser utilizado tanto em armas de ferrolho quanto semiautomáticas/automáticas;
2. Ter um recuo muito mais leve que uma arma em .308, para ser possível atirar com mais velocidade e para maior conforto da maioria dos atiradores;
3. Ter uma curva balística mais achatada, com um projétil de alta precisão e alto coeficiente balístico;
4. A vida útil do cano da arma que utilizar esse calibre deveria ser alta;
5. Usar insumos já disponíveis no mercado, principalmente a pólvora, para ser facilmente recarregado e replicado por outras fabricantes.
6. Ter a receita de recarga impressa em sua caixa.
7. Ser produzido em quantidade suficiente para atender a demanda que teria no mercado.
Com essa lista em mãos, Emary voltou à Hornady e começou a trabalhar no novo calibre. Com a ajuda de Joe Thielen no projeto, na Shot Show de 2006 ele deu a DeMille uma cápsula sem marcação. O calibre que ainda seria nomeado foi baseado no esquecido .30 T/C.
DeMille fez alguns testes com o novo calibre e deu algumas dicas a Emary sobre como melhorá-lo. A Hornady chegou a dizer que chamaria o novo calibre de 6,5mm DeMille, mas DeMille recusou essa ideia na hora. Pois, de acordo com ele, quem realmente fez todo o trabalho pesado no desenvolvimento daquele calibre foi Dave Emary e Joe Thieten e achava que sua participação estava sendo supervalorizada.
Ele então sugeriu que chamasse o calibre de 6,5mm Creedmoor, não somente para homenagear a empresa na qual ele era o gerente geral, a Creedmoor Sports, mas por conta da história do local, em Long Island, Nova York, onde a primeira competição nacional de rifles aconteceu.
Na Shot Show do ano seguinte, em 2007, o 6,5mm Creedmoor foi lançado pela Hornady mas sem a expectativa de que ele iria dominar o mercado da caça e tiro em poucos anos.
6,5 CREEDMOOR
Inicialmente o calibre foi oferecido com duas configurações, com projétil de 140gr. E outra com projétil de 120gr. Essas configurações levaram os projéteis a atingir velocidades moderadas. Em armas com cano de 24” utilizando munições com projétil de 140gr. os atiradores podiam esperar atingir cerca de 2710 fps (826 m/s), enquanto utilizando munições com projétil de 120gr. Podiam esperar atingir até 2910 fps (886,96 m/s). Por conta do alto coeficiente balístico desses projéteis, sua trajetória deixava o .308 “comendo poeira”.Utilizando a munição com projétil de 140gr., o projétil tinha a mesma trajetória do .300 Win. Mag, mas com 40% do seu recuo.
Por conta da receita da carga impressa na caixa da munição, os atiradores descobriram que esse calibre entregava uma precisão impressionante. Tanto atirando em silhuetas ao longa distância, quanto na caça. E essa precisão não era sorte. Uma pessoa com olhos mais treinados, percebia que as cápsulas não brilhavam tanto quanto outras fabricadas pela Hornady. As marcas de cozimento no pescoço do cartucho era muito nítido. Isso sedeu por conta e a Hornady decidiu não tamborear as cápsulas, pois isso poderia machucar o pescoço do estojo pescoço o que iria interferir em sua performance.
Esse tipo de cuidado e atenção ao longo do desenvolvimento e produção do calibre foram recompensados. Com esse calibre em campo, ele transformou agrupamentos de ½ MOA em agrupamentos de ¾ MOA, quando utilizados em bons rifles. E também porque o atirador possuía toda a tabela de carga do calibre na palma da mão, dessa forma ficou fácil replicar sua performance.
Os atiradores que utilizavam este calibre passaram a ganhar competições. Mas a maioria dos caçadores ainda não haviam ouvido falar ou eram céticos quanto a como um calibre tão pequeno poderia fazer algo em um animal maior que um cervo. Por conta das décadas de veneração por calibres Magnum, foi tirado dos caçadores a noção do que constituía um calibre para caça de animais grandes.
A BALÍSTICA DO 6,5 CREEDMOOR
Um dos grandes pontos que fez o 6,5 Creedmoor se destacar foi sua balística. Quando comparamos a caída do projétil deste calibre com outros, como o .308 Win, um dos calibres mais utilizados para caça e também tiro de precisão, podemos ver que o alto coeficiente balístico do 6,5 Creedmoor significa que o projétil se desloca bem no ar, o que ajuda a perder menos velocidade e seu projétil também cai em menor velocidade que outros. Quanto menos o projétil cai e se desloca, maior vai ser sua precisão.
Mas agora vamos comparar este calibre em relação ao calibre com o qual ele foi feito para competir, o .308 Win Mag. E vamos comparar também com o .300 Winchester Magnum.
Em comparação com o .308 Win. Mag , o projétil do 6,5 Creedmoor cai com menos velocidade do que o projétil de seu rival. O projétil possui variação menor, seja pela caída, seja pelo desvio que o vento pode causar, e por isso é mais preciso. E tudo isso voando em velocidade menor que a do .308 Win. Mag. e tendo um recuo consideravelmente menor, deixando as armas neste calibre mais confortáveis em se utilizar.
Já em comparação com o .300 Winchester Magnum podemos ver que este calibre atinge velocidades maiores que o 6,5 Creedmoor além de ter um coeficiente balístico também superior. Porém o recuo deste calibre é consideravelmente forte, além de ter um estampido muito alto em relação ao 6,5 Creedmoor, principalmente quando utilizado compensador de recuo.
Além disso, as armas em .300 Win Mag funcionam por ação longa do ferrolho, isso significa que praticamente todas as armas nesse calibre terão o curso do ferrolho maior, o cano maior e a arma vai ser mais pesada.
A trajetória balística do calibre 6,5 Creedmoor é semelhante ao do .300 Win Mag, porém com um recuo e estampido consideravelmente menor. Além disso seu funcionamento é por ação curta do ferrolho, ou seja, é possível usar este calibre em várias plataformas de arma sem perder seus melhores atributos.
Para concluir, analisando o gráfico é nítido perceber a grande variação entre o .308 Winchester Magnum e o 6,5 Creedmoor. O .308 Win Mag cai rapidamente após 600 jds., com cerca de 50” a mais de caída após 1000 jds, e quase 400” mais após 1700 jds.
Os atributos positivos do 6,5 Creedmoor são muito mais significantes que suas características negativas, quando comparado com o .300 Win Mag, por exemplo.
CAÇANDO ANIMAIS GRANDES
O calibre 6,5 Creedmoor se tornou um calibre extremamente vencedor também nos campos de caça. Utilizando munições próprias para caça é possível abater animais como o Elande, o maior membro da classe dos antílopes, que podem pesar mais de 1 tonelada, mais pesados que os bisões americanos. Tiros na paleta a 200 metros são capazes de destruir os pulmões e coração do animal, mesmo após atravessar a pele e as costelas do animal.
São eficazes também em até 650jd contra animais do tamanho de um Cervo Canadense.
Em competições é comum encontrar atiradores efetuando disparos acima de 1000m. Sendo utilizado em armas de ferrolho ou semi automáticas, esse calibre tem se mostrado um dos mais precisos nas competições de tiro em longa distância.
O MERCADO ACEITOU O 6,5MM CREEDMOOR
E foi essa combinação de precisão e eficácia em tiros a longa distância que o 6,5 Creedmoor se destacou. Após 2017 o número de armas neste calibre aumentou vertiginosamente nos EUA. Atualmente, praticamente todas as grandes fábricas de rifles e fuzis fabricam armas neste calibre.
Atualmente, em termos de calibres de armas longas, as vendas do calibre 6,5 Creedmoor perde apenas para o 5,56,45mm/.223 Rem. na Hornady.
Outros fabricantes de munição também abraçaram o calibre, como a Federal, Nosler, Winchester e Sellier & Bellot. No Brasil, com a CBC trazendo diversas armas de fabricantes estrangeiras nesse calibre, recentemente ela anunciou que também irá, muito em breve, fabricar e vender no Brasil munições 6,5mm Creedmoor. Dessa forma os atiradores brasileiros também poderão desfrutar de armas e munições nesse calibre com preços “acessíveis”.
Desafiando todos os obstáculos históricos de sucesso de calibres, é muito possível que o 6,5 Creedmoor permaneça no mercado do tiro de precisão e caça por muitos e muitos anos.
O 6,5 Creedmoor é a última palavra em termos de calibre de alta precisão e eficiência. Seja para um caçador ou um atirador de precisão.