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A COBRA FUMOU!

por Ricardo M. Andrade
7 Minutos de leitura

Alguns meses atrás postei na nossa antiga página do Facebook que em julho teríamos um dos artigos que mais tive a honra de fazer! Alguns leitores pediram dicas, e as únicas que eu dei foram no próprio post, dizendo que “A Cobra Fumou”, ou que ela iria fumar, afinal para bom entendedor meia palavra basta!

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Antes de começar o texto gostaria de agradecer muito ao Marcos Renault, presidente do Museu da FEB BH – pela disponibilização do local da entrevista e pelo acesso ao equipamento analisado (que virá em artigos posteriores), ao Ex-Cabo Veterano FEB João Batista Moreira, por se dispor a contar um pouco de sua história para nós, ao Carlos Daher, Diretor do Museu da FEB BH – por toda sua presteza durante e depois a entrevista, à Fátima Moreira, filha do Cabo João Batista Moreira – que se dedicou ao máximo para que esta entrevista acontecesse, à toda minha equipe – por acompanhar, fotografar, filmar e ter dado todo o apoio necessário ao evento e a todas as outras pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas para a realização desta entrevista, me sinto mais que honrado em escrever os próximos parágrafos!

Pois bem, o artigo que eu disse se trata deste que vos escrevo agora. Tive a honra de entrevistar o Cabo Veterano da FEB João Batista Moreira, ou simplesmente, Cabo Moreira! Um senhor de 94 anos de idade que nos agraciou com um pouco de sua história na guerra.

Texto: "O Homem na Guerra" escrito pelo próprio veterano

Texto: “O Homem na Guerra” escrito pelo próprio veterano

Carta redigida a seu pai durante a guerra.

Carta redigida a seu pai durante a guerra.

 

 

 

 

 

 

 

 

O Cabo João Batista Moreira é natural de Contagem, município pertencente a Grande Belo Horizonte, Minas Gerais, nascido em 1922, foi convocado à guerra aos seus 22 ou 23 anos de idade, João Moreira diz ter se sentido muito honrado por ter sido escolhido para lutar pelo nosso país, pela nossa liberdade. O militar, como muitos outros, recebeu treinamento insuficiente para a Guerra em que esteve presente. Estima-se que faltou cerca de 30% a mais de treinamento para estarem completamente preparados para o que iriam enfrentar, mas a verdade é que nenhum treinamento seria o suficiente para deixar uma pessoa pronta para enfrentar a morte, dia após dia, em território inimigo. Apesar de insuficiente, o treinamento foi pesado e alguns soldados morreram ainda nele, alguns dos exercícios que estes militares praticaram, hoje são proibidos pelo Exército Brasileiro, por serem de alto risco de morte.

"E as metralhadoras estavam LÁ!" Cabo João Moreira falando sobre seu treinamento.

“E as metralhadoras estavam LÁ!” Cabo João Moreira falando sobre seu treinamento.

Já na Itália, João Moreira e outros militares foram então apresentados e treinados com os novos armamentos. Moreira tinha suas preferências, dentre elas a granada de mão MK2, que diz ter derrubado muitos Nazistas. Além, claro de seu fuzil Garand e seu rifle Springfield 1903 em .30-06. Mas na guerra armamento não era um problema, em batalhas conseguiam o que queriam, sejam de seus compatriotas abatidos ou do inimigo morto. Por outro lado, a manutenção do armamento ficava por conta de seus donos que faziam quando possível, se possível. Mas soldado brasileiro era cuidadoso com seu equipamento, sabia que sua vida poderia depender daquela arma funcionar a qualquer instante, as munições, que eram de ótima qualidade (por parte dos aliados), eram sempre guardadas nos locais apropriados, pois, como naquela época as espoletas ainda eram a base de mercúrio, qualquer contato com umidade poderia causar a não detonação desta, e em uma batalha travada quase toda na neve, este problema poderia ser recorrente. E se tinha algo que os aliados tinham que o eixo não, era a boa logística, cases de papelão com pintura à base de petróleo para guardar as munições de canhão, pois caso molhasse o petróleo escorreria mas a umidade não afetaria a munição em si! Munição escassa era algo inexistente também, de acordo com o veterano, caixas e mais caixas de munições eram entregues por caminhões em suas bases, e quando se moviam de uma para outra elas eram deixadas para trás e novas eram entregues no novo local do grupamento.

Eu e o Sr. João Moreira, empunhavamos uma carabina M1 Carbine em .30 Carbine e um Rifle Springfield 1903 em .30-06, respectivamente.

Eu e o Sr. João Moreira, empunhávamos uma carabina M1 Carbine em .30 Carbine e um Rifle Springfield 1903 em .30-06, respectivamente.

Sem querer adiantar muito, o vídeo da entrevista é bem extenso mas está recheado de detalhadas histórias do Cabo João Moreira. Com uma memória inacreditável para a idade, o Veterano contou tudo que se lembrava da Segunda Guerra incluindo um conto em que se viu cara a cara a uma metralhadora italiana.

João Moreira perdeu parte da audição de um dos ouvidos na guerra, de acordo com seu relato, no mesmo lugar que um dia antes salvara toda sua tropa contra o bombardeio de… sua própria tropa, mas essa história completa encontra-se apenas no vídeo da entrevista.

Por fim, gostaria de deixar claro. O maior objetivo desta entrevista, foi homenagear, e mostrar o enorme e inestimável reconhecimento pelo que esses Veteranos passaram na Itália; um frio inexplicável, falta de preparo, saudade de casa, se deparar com a morte dia após dia e uma vontade enorme de mostrar para todo o mundo e principalmente para quem duvidava da capacidade desses HERÓIS e do nosso Exército Brasileiro na guerra. Para quem dizia que seria mais fácil a cobra fumar do que o Brasil fazer alguma coisa na guerra, a resposta está na história. História delicada, difícil, mas que no fim se tornou um dos maiores orgulhos do nosso país, mesmo que seja só em datas comemorativas (o que eu acho muito pouco pelo que fizeram por nós): COBRAS FUMANTES, ETERNA É A SUA VITÓRIA! … A cobra fumou! E fumou bonito!

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“Ergam-se do sangue de seus heróis.
Vocês se recusaram a se entregar,’Os três’, preferiram morrer, a fugir,
Saibam que sua memória,
Será cantada por séculos.
… COBRAS FUMANTES, SUAS MEMÓRIAS SOBREVIVEM!”
Smoking Snakes – Sabaton (tradução livre)

Obs: A parte da entrevista em que digo que não irei publicar e que por acaso está no vídeo, foi posteriormente autorizada pelo Veterano.

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2 Comentarios

Juarez Mendes Ribeiro Junior 29/08/2015 - 12:56

Vendo Homens como Cabo João Batista Moreira, sinto um imenso orgulho de ser brasileiro, e um profundo pesar por não ter o devido reconhecimento pela nossa nação. Devemos orgulhar e honrar os bravos guerreiros que serviram e servem nossa pátria Brasil!
Excelente história experiência de vida, e principalmente no relato final, com um belo exemplo de disciplina e dedicação a ser seguido por todos nós!
Sinto também um grande arrependimento, como sempre digo ser o maior da minha vida ate hoje, de não ter servido o Exercito Brasileiro!
No entanto creio que nossa geração, e as futuras, possam diferentemente da geração de nossos pais, mudar esse quadro da nossa história. Porém percebo que já vem mudando aos poucos. Mas histórias como essas devem ser contadas e repetidas inúmeras vezes a fim de resgatar nosso orgulho patriota!
Parabéns a todos do Firearms Brasil pelo trabalho!!!

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Bruno Amaral 29/08/2015 - 20:48

Excelente matéria! Parabéns à toda equipe, e principalmente ao Ricardo e ao Cabo João Batista Moreira por compartilhar uma parte importante de nossa história conosco.

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