Início » A História das Armas » ARMAS PRÉ PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL » METRALHADORA BROWNING M1917 E M1919

METRALHADORA BROWNING M1917 E M1919

por Ricardo M. Andrade
12 Minutos de leitura

Sejam bem vindos ao artigo sobre a metralhadora Browning M1917 e M1919, dando então continuação aos artigos de armas da Segunda Guerra Mundial.

Para falar sobre a invenção da metralhadora Browning M1919, é preciso voltar no tempo. Entre o final do século 19 e início do século 20, quando os EUA ainda não se preocupava muito em adquirir este tipo de armamento. Nesta época, eles ainda não haviam participado de nenhum grande conflito, apenas alguns confrontos como a guerra hispano-americana, que durou apenas cinco meses (entre o dia 25 de abril e 12 de agosto de 1898) as guerras indígenas, que foram de 1836 até 1891, e a Expedição Mexicana, quando foram atrás de Pancho Villa, no México, que resultou na morte de 15 americanos, entre março de 1916 e fevereiro de 1917.

A metrlahadora Browning M1895 era usada de diversas maneiras, inclusive junto a animais.

A metralhadora Browning M1895 era usada de diversas maneiras, inclusive junto a animais.

Antes dos EUA entrarem na guerra hispano-americana, seu Exército recebeu diversas metralhadoras diferentes, muitos modelos europeus como metralhadoras Hotchkiss e também algumas metralhadoras Browning M1895, fabricada pela Colt e a primeira metralhadora desenvolvida pelo projetista. Logo em 1890, John recebeu a patente de uma metralhadora com operação por blowback, e em 1901 fabricou o primeiro protótipo deste tipo de armamento, o modelo foi chamado de M1901. O projeto ficou estagnado por conta da falta de interesse das forças militares em adquirirem este tipo de armamento. Em 1910, John Moses Browning retomou atenção a sua nova arma e fez diversos aprimoramentos, foi aí que nasceu o que viria a se tornar a metralhadora modelo 1917: uma metralhadora pesada, alimentada por um cinto de munição. Em volta de seu cano havia uma espécie de jaqueta de metal, na qual era colocado água através de um orifício na jaqueta, para resfriar o cano. Seu calibre era o .30-06 Springfield, padrão do exército naquela época.

Mesmo com esta nova arma, as Forças Armadas dos EUA ainda não tinham interesse em adquirir novas metralhadoras, afinal de contas o país não estava participando de nenhum grande conflito e nem pretendia participar de um. Até que em abril de 1917, com a entrada deste país na Primeira Guerra Mundial, adquirir metralhadoras se tornou uma necessidade. Nesta época, os Norte Americanos possuíam um escasso arsenal de metralhadoras e as que tinham eram já obsoletas, em calibres não padronizados. Essa situação se tornou insustentável pois os militares que chegavam à França precisavam usar armamento emprestado das forças aliadas, e não só metralhadoras, mas também carros de combate, como os tanques já que eles possuíam exatamente 0 (zero) unidades.

Autor deste aritgo com uma metralhadora Browning M1917 no Museu da FEB em BH-MG.

Autor deste artigo com uma metralhadora Browning M1917 no Museu da FEB em BH-MG.

Neste ano o Exército lançou um contrato para a dotação de uma nova metralhadora. Browning entregou à força militar o protótipo da metralhadora criada em 1910 e este protótipo efetuou 20.000 disparos sem que ocorresse nenhuma falha mecânica. Os oficiais, ainda duvidando da arma de Browning, disseram que este modelo não seria capaz de realizar a mesma façanha quando fosse produzida em massa, e em resposta a isso John Browning entregou ao exército um novo protótipo que não só repetiu o feito da unidade anterior, de não cometer falha alguma, como efetuou 2 mil disparos a mais. Algo louvável até mesmo para os padrões modernos. Foi feita uma encomenda então de 40.000 exemplares da arma, sendo que os contratos de produção foram distribuídos para a Colt, Remington e New England Westinghouse.

Em 1918, Browning percebeu que havia trabalhado bem no sistema de operação por blowback em sua metralhadora e decidiu então aprimorar seu projeto, pois ele queria que sua arma pudesse ser empregada em tanques de guerra, o que era impossível para o modelo M1917, por conta da sua jaqueta de ferro (se ela sofresse qualquer tipo de dano, poderia deixar a arma inutilizada). Esta arma também não podia ser empregada na cavalaria, por conta de seu peso excessivo. John fez então suas alterações no projeto, removeu a jaqueta que fazia o resfriamento do cano a água, adicionou um tipo de dissipador de calor em volta do cano e trocou o cano mais leve de 24″ da M1917 por um cano mais pesado de 18″, dentre outras mudanças internas que culminaram no nascimento do modelo 1919 ou M1919 Tank Machinegun.

O Exército nomeava as armas de acordo com o ano em que eram adotadas por eles e por isso, a metralhadora M1917, que foi desenvolvida em 1910 foi chamada de M1917. Em 1917, já existiam 3 armas com este modelo, um revólver Colt M1917, um rifle Enfield M1917 e a metralhadora Browning M1917. Em 1918 Browning já havia desenvolvido, fabricado e até mesmo entregue para alguns esquadrões na França, durante a Primeira Guerra Mundial, a metralhadora leve B.A.R M1918. Para evitar uma situação constrangedora, de haver dois tipos “iguais” de armamento, do mesmo projetista, com o mesmo modelo, resolveram então nomear a nova metralhadora resfriada a ar de M1919. Durante este conflito foi passado à New England Westinghouse um grande pedido de fabricação, mas com o fim da Guerra em novembro o número caiu para 500 armas, e no total foram produzidas apenas 1300 metralhadoras Browning M1919 para a Primeira Guerra Mundial. Além, do fim do interesse norte americano em adquirir novos armamentos.

Acima vemos o modelo M1919A1 e abaixo vemos o modelo M1919A2, inclusive equipada a uma montaria.

Acima vemos o modelo M1919A1 e abaixo vemos o modelo M1919A2, inclusive equipada a uma montaria.

O modelo M1919 Tank Gun (ou Tank Machine Gun), não possuía aparelho de pontaria e para contornar isso foi colocado um tipo de mira óptica sobre o receiver da arma (além de terem colocado uma espécie de coronha “telescópica” removível), criando assim o modelo M1919A1, que era usado nos tanques Mark VIII. Por volta de 1930 a Cavalaria do Exército recebeu diversas metralhadoras M1919 Tank Machinegun e como o modelo original não possuía aparelho de pontaria, os militares desta unidade adaptaram estas peças de outras armas, colocando a alça de mira na parte de trás do receiver, e a massa de mira em sobre um anel que ficava próximo à ponta do cano. Fizeram um novo tripé e apresentaram ao Departamento de Suprimentos (Ordnance Departmant) como seria a arma necessária para seu uso. Essa nova variação foi depois oficialmente produzida em massa e adotada como M1919A2 Cavalry Gun.

A infantaria, para não ficar para trás, adquiriu cerca de 72 metralhadoras M1919 Tank Gun que também teve a massa de mira adaptada e alocada logo à frente do receiver, tornando-a conhecida como M1919A3.

Documento em que são mostradas as diferenças entre os modelos anteriores e o modelo M1919A4.

Documento em que são mostradas as diferenças entre os modelos anteriores e o modelo M1919A4.

Entre 1931 e 1936, a Rock Island Armory ganhou os direitos de produção de armas em calibre .30-06 da Springfield Armory, e conduziram então diversos testes de performance nos armamentos daquele calibre. Todos os modelos de metralhadoras M1919 até então possuíam um cano de 18″, mas usando este tipo de cano, o calibre .30-06 Springfield não atingia todo seu potencial. Ficou determinado então, depois de inúmeros testes, que um cano de 24″ melhoraria a precisão e distancia dos disparos.

Nestes testes foram criados dois modelos experimentais: M1919E2 e M1919A2E3, ambas equipadas com canos de 24″. A metralhadora A2E3 foi presa ao tripé da metralhadora M1917A1, ficando muito parecida com o modelo M1919A2, porém com um cano de 24″. Seu cabo era uma peça única de alumínio, ao invés de ter talas de madeira, a alça de mira foi montada na janela de proteção de poeira. Possuía abas reforçadas nas laterais do frame, sua alça de mira permaneceu no mesmo lugar da M1919A2, sobre um anel da parte da frente do cano.

Ocorreram também outras mudanças internas, como os vários tipos de sistema de amortecimento, que consistiram em diversas combinações de discos de fibra, molas, cones de parada e fricção. O sistema de amortecimento de recuo, localizado na parte de trás do frame, foi projetado para absorver um pouco da energia liberada pelo movimento do ferrolho, prevenindo então que danos ocorressem ao corpo da arma.

Já o modelo experimental M1919E2, tinha como principal modificação a localização da massa de mira, que agora estava localizada logo à frente do corpo da arma. Com a massa ali, o raio de mira foi reduzido de 60cm para 35cm, mas isso fez com que equipar este armamento em veículos se tornasse uma tarefa mais fácil, pois ela também era rebatível. Este tipo de mira permaneceu até o último modelo de Browning M1919.

Metralhadora Browning M1919A4.

Metralhadora Browning M1919A4.

O modelo mais conhecido e chamado de final, o M1919A4 (que na verdade não foi o final), veio logo após o desenvolvimento do modelo M1919A3. Ele foi criado para ser usado de forma fixa, em veículos (M1919A4 Fixed Machinegun), e móvel, montadas em tripés (M1919A4 Flexible Machinegun). E foi justamente este o modelo usado durante a Segunda guerra Mundial. Nesta época, todos os modelos M1919A2 que o exército possuía, foram convertidos para o modelo M1919A4 que possuía agora um cano de 24″, mais pesado, alça e massa de mira no corpo da arma, não possuía coronha nem qualquer tipo de trava. Funcionava por ação de delay blowback e disparava com o ferrolho aberto.

As empresas que produziram a metralhadora M1919A4 foram a Rock Island Armory (RIA), Saginaw, uma empresa subsidiária da General Motors e mais tarde pela Buffalo Arms. Outras empresas mais conhecidas, como a Springfield Armory, já estavam lotados produzindo os rifles M1 Garand, ficando com as empresas menores o trabalho de produzir este armamento. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, estas empresas produziram cerca de 435.000 exemplares deste armamento, sendo 367.000 pela Saginaw, 30.000 pela Rock Island Armory e 38.000 pela Buffalo Arms.

M1919Dois outros modelos também foram criados e também usados durante a Segunda Guerra Mundial, foram os modelos M1919A5 e A6. O modelo M1919A5 foi uma adaptação do modelo M1919A4, que possuía apenas uma alavanca maior para manejo do ferrolho, um cabo diferente para segurar a arma e pontos de apoio para ser equipado na cúpula dos tanques M3 Stuart.

Já o modelo M1919A6, possuía coronha de metal ou madeira presa ao cabo da arma, um bipe, ao invés de um tripé, um quebra chamas na ponta do cano e uma alça para carregar a arma, além de um cano mais leve. Essas modificações foram feitas como uma tentativa de se criar uma metralhadora mais leve que pudesse ser carregada e disparada por uma única pessoa, já que a arma em si pesava mais que uma M1919A4, mas pelo fato de usar um bipé ao invés de um tripé, isso já tornava mais leve de modo geral. Esta arma tinha a intenção de abastecer a Infantaria e os Paraquedistas.

Como foi dito, não só a M1919A5 mas também a M1919A6, foram usadas na Segunda Guerra Mundial e a última também na Guerra do Vietnam. As metralhadoras M1919A5, com o sair de cena do tanque para o qual foi desenvolvida, foram todas convertidas para A4 ou A6, enquanto as A4 e A6 continuaram a ser produzidas.

Em 1957 a responsabilidade de produção de metralhadoras em calibre .30-06 Springfield, voltou a ser da Springfield Armory, e nesse tempo eles já estavam substituindo aos poucos as metralhadoras M1919A4/A6 pelas novas M60, em calibre 7,62x51mm.

O uso desta metralhadora mundo afora foi extenso e até hoje existem países que usam este armamento, alguns na forma original, em .30-06, outros a converteram para o mais moderno 7,62x51mm.

Confira abaixo um vídeo meu e outro do Alexandre Lima, em que eu conto um pouco da história desta arma e o Alexandre mostra todo o sistema interno da metralhadora M1919A4:

 

You may also like

Comente essa publicação