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MP18 A PRIMEIRA SUBMETRALHADORA DO MUNDO

por Ricardo M. Andrade
11 Minutos de leitura

E aqui vamos nós, mais um artigo. Resolvi falar hoje sobre a primeira submetralhadora do mundo, a submetralhadora alemã Maschinenpistole 18, também conhecida como MP18, devido ao processo de seleção de novos autores para o blog (se você se interessa em ser um autor voluntário, envie um e-mail para contato@firearmsbrasil.com.br).

Antes de falarmos sobre ela, é importante conceituarmos esse tipo de arma e explicar o contexto de sua criação. Uma submetralhadora é considerada um meio termo entre uma pistola e uma metralhadora, pois usa o mesmo tipo de munição que uma pistola, como o calibre 9mm Luger, .40S&W, .45ACP, etc. Entretanto, a sua capacidade de tiro é maior. E assim como uma metralhadora, uma sub efetua disparos em modo automático. Entretanto é leve o suficiente para que apenas um homem consiga portá-la e utilizá-la, podendo levá-la durante longas horas de caminhada, assim como um rifle.

Glisenti Twin Villar-Perosa

Apesar da MP18 ser chamada de a primeira submetralhadora do mundo, em 1915 a Itália adotou a chamada Glisenti Twin Villar-Perosa, uma arma em calibre 9mm Gilsenti. Essa possuía quase todas as características de uma submetralhadora, entretanto não possuía coronha, e foi criada para ser usada como uma metralhadora leve em aeronaves da época ou tripés, e por isso não era considerada uma submetralhadora. Mas em 1918, a Beretta lançou a chamada Beretta M1918, a então sim, primeira submetralhadora Italiana.

CRIAÇÃO

Luger Artillery, modelo automático da já famosa pistola alemã. Calibre 9mm Luger

Durante a Primeira Guerra Mundial, a necessidade de uma arma curta, rápida, precisa e leve o suficiente para efetuar ataques em trincheiras, se tornou uma necessidade, já que na época, usavam a baioneta de rifles e lança chamas para tomarem as trincheiras inimigas, o que nem sempre era tão eficaz ou seguro.

Em 1915, os militares alemães tentaram modificar as pistolas Luger P08 e Mauser C96, para utilizar carregadores com maior capacidade de tiros, e disparar de forma automática, mas, com por ter uma cadência de tiros de 1200 disparos por minuto e as armas serem muito leves, era praticamente impossível manter a visada no alvo durante uma série de disparos em em modo automático. A Comissão de Rifles Alemã decidiu então que era necessário uma nova classe de armas. Uma que disparasse munições do mesmo calibre de uma pistola, mas que pudesse ser disparada em modo completamente automático.

Hugo Schmeisser e sua criação, submetralhadora MP18

Theodor Bergmann, dono da Bergmann Waffenfabrik era o líder da equipe de projetistas da arma requisitada pelos militares alemães, mas foi Hugo Schmeisser, um talentoso engenheiro, que criou a então chamada MP18/I, ainda em 1916. Usando materiais de alta qualidade, a arma possuía sistema de alimentação por blowback com ferrolho aberto e percursor lançado, sistema que foi copiado por quase todas as submetralhadoras até os anos 70. Seu calibre era o 9mm Luger, mesmo calibre das então pistolas Luger P08 usadas pelo Exército Alemão.

UTILIZAÇÃO

Submetralhadora MP18/I

Submetralhadora MP18/I

A MP18 foi adotada como arma regular do Exército Alemão apenas em 1918, já nos estágios finais da Primeira Guerra Mundial, quando o Exército Alemão encomendou cerca de 10.000 exemplares da arma para a Bergmann Warffenfabrik. E apesar não terem sido usadas por muito tempo, ela foi revolucionária para sua época, e se mostrou de grande valor em campo de batalha. Principalmente nas guerras de trincheira, motivo original de seu desenvolvimento.

Com o fim da Primeira Grande Guerra, e com a derrota da Alemanha, o Tratado de Versalles proibiu de forma explicita a fabricação e estocagem de certas armas de fogo na Alemanha, como a MP18. Entretanto, a Bergmann Waffenfabrik, continuou a produção da MP18 até 1920, em segredo, fazendo então cerca de 35.000 exemplares. A Bergmann Waffenfabrik vendeu à SIG o projeto de sua submetralhadora, que começou a ser produzida e vendida como SIG Bergmann MP20.

CARACTERÍSTICAS

A coronha e a parte de baixo da arma, eram feitas de uma peça única de madeira, assim como nos rifles usados na época. Seu receiver era feito de uma peça única de um tubo de aço usinado e possuía 3mm de espessura, diferente de outras submetralhadoras que vieram mais tarde, que usavam tubos mais finos de 1,5mm. Seu ferrolho também era feito de uma peça única de metal usinado. Foi adicionado ao cano da arma um dissipador de calor, para ajudar a resfriá-lo durante os disparos. Seu carregador era inserido a partir do lado esquerdo do receiver, e a alavanca de manejo do ferrolho se localizava do lado direito do mesmo. A MP18 foi desenvolvida para ser disparada apenas em modo automático, mas por conta de sua alta cadência de tiros, 500 por minuto, os militares comumente apertavam e soltavam o gatilho, rápido, efetuando então tiros únicos contra seus alvos. Seu carregador original tinha a capacidade de 20 munições e era em forma de “caixa”, mas os militares insistiram que fosse usado um carregador circular, com capacidade para 32 disparos, o TM-08, que foi originalmente projetado para as pistolas Luger.

Por conta da forma de produção e dos materiais utilizados, a Bergmann MP18 era uma arma cara e de produção demorada. Com o passar do tempo, as novas armas que foram surgindo passaram a adotar uma forma mais rápida e barata de produção, usando aço estampado e rebites.

VARIANTES

SIG Bergmann MP20

Sig Bergmann 1920. É possível ver gravado "Brevet Bergmann"

Sig Bergmann 1920. É possível ver gravado “Brevet Bergmann”

A SIG Bergmann MP20 foi produzida não só em 9mm Luger, mas também em 7,63x25mm e .30 Luger. A nova MP18 continuou a ser usada por diversas forças policiais, como a da China, França e Finlandia. O projeto foi alterado por Hugo Schmeisser para usar o carregador projetado originalmente, com capacidade de 20 munições, reto e em forma de caixa, mais tarde foram criados carregadores com capacidade para 40 e 50 munições, além de ser adicionado uma trava do ferrolho a pedido das forças policiais Alemãs. Os Franceses, após capturarem e estudarem a MP18, chegaram a projetar, em 1922, sua própria submetralhadora, desenvolvida pela Section Technique de l’Armée (STA). Ela era uma arma relativamente convencional aos franceses e era uma cópia da MP18, com algumas alterações, como um bipé destacável na boca do cano, um dust cover na janela de ejeção das cápsulas e o carregador era inserido pela parte de baixo da arma, além de usar material mais leve em sua construção. Após testes bem sucedidos, foi entregue ao Exército francês um lote de alguns milhares dessa arma em 1924, mas logo após a entrega os franceses barraram a produção, pois haviam desenvolvido uma metralhadora leve que achavam que seria melhor empregada em campo de batalha. Eles não enxergavam a STA 1922/24 como uma arma de emprego individual, mas sim uma arma de suporte de fogo.

Bergmann MP28

MP28/II e seus carregadores de 20 e 30 tiros

MP28/II e seus carregadores de 20 e 30 tiros.

Em 1928, Hugo Schmeisser criou uma evolução da MP18I: a MP28/II. Devido ao pedido da polícia alemã (que começou a utiliza-la), essa arma possuía um seletor de tiros (entre automático e semiautomático) que ficava localizado logo acima do gatilho. Os exemplares usados pela polícia, foram produzidos em número limitado pela C.G Haenel. Já pela Pieper, na Bélgica, onde foi produzido um número expressivo desse modelo sob licença, a arma foi feita para ser exportada, e por isso ficou em uso por países como: China, Japão, Espanha, África do Sul e alguns países da América do Sul.

Steyr MP34

fábrica austríaca Steyr produziu a submetralhadora MP34, que era uma evolução do modelo MP18 feita pela

Steyr MP34

Steyr MP34

Rheinmetall (modelo projetado originalmente em 1919). A Rheinmetall, através da fábrica suíça Solothurn, produziu secretamente protótipos da MP34, entretanto, eles eram incapazes de ter uma produção em larga escala. A Steyr então foi contratada para produzir suas armas que foram usadas pela Polícia Austríaca. A MP34 era produzida com os melhores materiais possíveis, e por isso era conhecida como o “Rolls Royce” das submetralhadoras, além de ter sido fabricada em diversos calibres para exportação e uso interno. Na América do Sul, por exemplo, ela foi usada pelas Forças Armadas Chilenas em calibre .45ACP; e já a própria polícia austríaca usou MP’s30 em calibre 9x23mm, enquanto o Exército Austríaco usava MP’s34 em calibre 9x25mm Mauser. Durante a anexação da Áustria à Alemanha em 1938 durante a Segunda Grande Guerra, a SS alemã coletou centenas de MP’s34 e as transformou em 9mm Luger. Sua produção foi cessada no início dos anos 1940, quando as fábricas austríacas passaram a produzir a submetralhadora alemã MP40.

(B)MP32/34/35

mp32,mp34,mp35Emil Bergmann, filho de Theodor Bergman, dono da Waffenfabrik Bergmann, fábrica que criou e produziu a MP18, desenvolveu em 1932 na Dinamarca a submetralhadora BMP32. Ao primeiro olhar, a BMP32 era uma arma exatamente igual à MP28, porém, seu carregador era inserido pela direita, ao invés da esquerda. Apesar de ter outras diferenças a BMP32 era basicamente um protótipo e mesmo assim Bergmann vendeu a licença de fabricação para a fabrica Dinamarquesa Shulz & Larsen que produziu a BMP32 em calibre 9mm Bergmann (9x23mm Bergmann) para o exército Dinamarquês. Nos anos seguintes, o projeto da BMP32 foi revisado e em 1934 Bergmann desenvolveu a evolução da BMP32, a MP34. Como a capacidade de produção da Waffenfabrik Bergmann era pequena, a Carl Walther foi contratada para fazer suas MP’s34 e eles produziram cerca de 2000 exemplares da arma para uso doméstico e exportação. A MP34 possuía versões com cano de 200mm ou 320mm. Nos meados de 1935, Bergmann introduziu no mercado uma versão mais simples da MP34, a MP35/I. A Walther chegou a produzir 5000 exemplares deste modelo entre 1936 e 1940, que foram enviados para a Etiópia e Suécia, que adotaram essa arma como Bergmann MP39. Com a Segunda Guerra Mundial já avançando, a Walther focou na produção de armamentos mais importantes, e então a Junker & Ruh foi contratada para produzir a Bergmann MP35/I para a SS. Cerca de 40.000 exemplares dessa arma foram feitos por esta fábrica até o fim da Segunda Guerra Mundial.

A MP18 foi um projeto inovador para seu tempo e, como pudemos ver, influenciou no desenvolvimento de diversos outros projetos até os anos 60. Seu sistema de operação se tornou padrão em praticamente todas as armas mais conhecidos da época, e sem dúvidas inspirou armas do entreguerras como a Soviética PPD, que operava basicamente da mesma forma que a MP18, além de serem quase idênticas.

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2 Comentarios

Igor 30/06/2017 - 22:01

Ótimo artigo, com certeza a MP18 foi revolucionária. Só uma correção a Villar-Perosa era em calibre 9mm Glisenti, ao invés de 9mm Luger.

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Ricardo M. Andrade 05/07/2017 - 10:14

Obrigado pela correção amigo, já alterei o texto

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