COLT M1911 – PARTE I

por Ricardo M. Andrade
10 Minutos de leitura

Acho que este artigo é o que terei o maior prazer em escrever, pesquisar, descobrir curiosidades, ler e aprender um pouco mais sobre esta arma centenária. Impossível não gostar. A 1911 é com toda certeza a arma que mais prestigio dentre todos os outros modelos de marcas existentes, quem me deu a ideia de escrever este artigo foi meu grande amigo Bruno Amaral, o Preto, amigo desde a época do colégio. Alguns dos leitores podem achar que puxo saco da Glock, que sou um “glockeiro” pelo fato de ter escrito dois artigos detalhados sobre ela, mas a verdade é que nem mesmo gosto dela, não me acostumo com seu gatilho de forma alguma, é óbvio que foi uma arma revolucionária para sua época, mas sou old School, prefiro o metal nas armas do que o plástico. Mas enfim vamos ao que interessa.

A história da pistola modelo 1911, um dos modelos de armas mais respeitados em todo o mundo, se não o mais, dá-se inicio a mais ou menos uma década ou mais antes do ano de sua criação, e do outro lado do mundo, nas Filipinas. Quando os Militares Americanos se viram encurralados em combate contra os insurgentes locais. Foi ai que viram a necessidade imediata de um calibre mais eficaz para suas pistolas.

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Navio USS Maine

Após o naufrágio do navio de guerra USS Maine, no porto de Havana, em Fevereiro de 1898, os Estados Unidos entraram em guerra com a Espanha. Juntamente com a invasão de Cuba, as forças da Marinha Americana destruíram a frota espanhola na Baia de Manila em Março de 1898, uma das vitórias mais desiguais de toda a história dos Marines. As forças terrestres Americanas foram a chão então para derrubar o governo colonial espanhol  e ocupar as ilhas.

Continuando a resistência armada que tinham, anteriormente, mostrado contra os espanhóis, os Guerreiros de Moro das ilhas do Sul enfrentaram os americanos em uma longa luta de guerrilha, que durou quase 15 anos. A maior parte do combate acontecia a curta distância.

Na época, as tropas americanas eram equipadas com rifles de ação por ferrolho Krag-Jorgensen ou Springfield .30-40 e Revólveres Colt M1892 de ação dupla em .38 Long Colt. Enquanto os rifles se mostravam eficazes em parar os inimigos americanos, o revólver das tropas demonstrou exatamente o contrário, resultando em diversos casos em que os insurgentes locais eram baleados diversas vezes e continuavam a ir para cima das tropas americanas.

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Rifle Krag-Jorgensen em .30-40 acima e abaixo um REvólver Colt 1892 em .38 Long Colt

A situação das armas curtas americanas ficou tão séria que colocaram de volta a batalha velhos estoques de revólveres Colt M1873 em .45 Long Colt, muitos deles datavam de antes das Guerras Indígenas Americanas e rapidamente se mostraram muito mais eficazes do que os novos Colt M1892.

A experiência contra os Moros em campo de batalha resultou nos famosos testes de Thompson-LeGarde pelos Militares Americanos em 1904. Nestes testes uma variedade de calibres militares do dia eram testados por sua penetração, “habilidade de parar” (Stopping Power) e transferência de energia, usando gado tanto morto quanto vivo como alvo de teste a média distância. Enquanto de alguma forma subjetiva pelos padrões modernos, os testes resultaram em uma recomendação oficial “…um projétil, que vai ter um efeito de choque e parada a curta distância disparada de um revólver ou pistola, não deve ter um calibre menor que .45.”

Nesta mesma época duas novas tecnologias de armamento estavam surgindo, pólvora sem fumaça e pistola semi-automática. Em 1906 os Militares americanos, sob o comando do General William Crozier, começaram a avaliar diversas pistolas juntamente com um novo calibre inventado, o .45 Automatic Colt Pistol (.45ACP). Os testes continuaram por muitos anos e a pistola da Colt começou a emergir como a favorita.

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Revólver Colt M1873 em .45 Long Colt

A pistola Colt que foi submetida a estes testes foi Criada por John Moses Browning. Sem dúvida o mais inovador e visionário projetista de armas do século 19 e início do século 20, Browning ganhou a reputação de “pai do fogo automático”, pois sua genialidade de criação não se restringia a pistolas, além de outras invenções, foi ele, John Browning, que inventou a metralhadora “BAR” (Browning Automatic Rifle), inúmeras metralhadoras em calibre .30 e .50BMG, e a legendária pistola Browning Hi-Power, o primeiro projeto bem sucedido de pistola semi automática de grande capacidade.

Baseado no princípio de operação por baixo recuo, o projeto de John M. Browning era uma pistola semi-automática alimentada por carregador e de ação simples (Single Action), com trava do ferrolho e de empunhadura que demonstravam o nível de durabilidade, simplicidade e confiança que nenhuma outra pistola na época tinha. Na verdade, durante 6.000 disparos em dois dias de testes em 1910, que foi supervisionado pessoalmente por Browning, sua amostra ficou tão quente que tiveram que submergi-la em um balde de água para que a arma esfriasse e pudessem continuar os testes. Sua amostra passou no teste não reportando nenhum mal funcionamento.

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Oficial Americano testando a pistola 1911 .45ACP na França, em 1918.

A cavalaria seria a primeira tropa a ser equipada com esta pistola, diversas características específicas do design da arma, como a trava de empunhadura, foram demandadas pelos cavaleiros que as usariam. O projeto da pistola de Browning foi formalmente adotada pelo exército americano em 29 de março de 1911, e ficou oficialmente conhecida como modelo 1911. A marinha dos EUA adotaram a mesma arma em 1913.

O projeto de Browning foi testada em combate pela primeira vez em 1916, no México. Na época o México havia entrado em uma revolução e o General rebelde mais proeminente era Pancho Villa. Durante as primeiras horas da manhã do dia 9 de Março de 1916, Villa e seus homens atacaram, roubaram e queimaram a pequena cidade de Columbus, Novo México, resultando na morte de 18 soldados americanos e civis. Outros ataques feitos por Villa e seus homens, no Texas, resultou na morte de muitos outros Soldados e Oficiais Americanos.

Em resposta aos ataques, o Presidente Woodrow ordenou ao General John J. “Black Jack” Pershing que liderasse uma força de quase 5000 soldados para capturar Pancho Villa dentro do México. Muitos dos líderes militares da nova geração do exército tiveram sua primeira experiência em combate nesta operação, incluindo um ambicioso e jovem Tenente chamado George S. Patton. Enquanto a Expedição Punitiva (Punitive Expedition) falhou na captura de Villa, ela, ao mesmo tempo, forneceu o primeiro grande combate que serviu de teste para novas tecnologias militares como, aviões, telégrafo sem fio, caminhões de transporte motorizados e também da pistola Modelo 1911.

armas browningNo ano seguinte, marcado pela entrada dos Estados Unidos na Primeira Grande Guerra Mundial, na Europa. As forças Americanas, novamente, sob o comando do General Pershing, se juntou às forças Canadenses, Francesas e Britânicas para levar a Alemanha ao Fronte Ocidental. No total, mais de um milhão de tropas americanas serviram neste conflito mundial.

A Primeira Guerra Mundial provou um encontro brutal entre novas armas e táticas antigas. Muito do combate terrestre no fronte ocidental foi conduzido como um guerra de trincheira, em que pequenas unidades travavam combates a curta distância, era uma tática comum. O modelo 1911 se provou mais do que igual à força tarefa, e esta potente pistola rapidamente se tornou a favorita dos americanos. Durante uma investida lendária, em que o Sargento Alvin York usou usa 1911 para parar o ataque de seis alemães disparando 7 vezes contra eles, ganhando assim uma Medalha de Honra. O tenente Frank Luke da Corporação Aérea do Exército Americano foi agraciado postumamente com a Medalha de Honra por seus excelentes resultados em batalha e sua luta até a morte usando sua pistola 1911 .45ACP contra a infantaria alemã arremetida após a queda de seu avião. Outros armamentos também foram testados durante a Primeira Guerra Mundial, como, aviões, tanques, metralhadoras e submarinos.

M1911vsM1911A1A era pós guerra gerou sutis melhoras no modelo básico da 1911, incluindo as miras que foram modificadas, a tampa da mola do cabo da arma que agora é arqueada, o gatilho diminuiu, a mola de trava da empunhadura maior e melhoramentos na ergonomia da arma. Todas as melhoras foram terminadas em 1924 e resultou no modelo 1911A1. Pouco tempo depois das modificações serem formalmente finalizadas, John Moses Browning faleceu devido a um ataque do coração na Fabrique Nationale (FN) de Herstal, na Bélgica, no dia 26 de Novembro de 1926.

Quando os EUA começaram a emergir como uma potencial militar mundial, o modelo 1911 entrou em diversos conflitos, incluindo pequenos combates no Caribe, América do Sul e Central. Essas intervenções foram consideradas necessárias para fornecer estabilidade econômica, social e política para as regiões.

Durante esta era o modelo 1911 se tornou a arma principal de diversas forças policiais, primeiramente em .45ACP e depois em .38 Super Auto. Dentre diversas forças policiais que a usaram, as mais conhecidas são os Texas Rangers, Agentes Federais da Patrulha da Fronteira (Border Patrol), a “Prohibition Service” e o FBI.

O dia 7 de Dezembro de 1941, trouxe o ataque japonês à ilha de Pearl Harbor, e os EUA entraram oficialmente na Segunda Guerra Mundial. O conflito representou a maior mobilização para guerra da história dos EUA, com pouco mais de 16 milhões de americanos, homens e mulheres, servindo nas forças armadas em cada canto do conflito. O modelo 1911 foi a arma secundária padrão de quase todas as tropas americanas, seja ela terrestre, marítima ou aérea. A produção militar total do modelo 1911 chegou a quase 3 milhões. Combinado com milhões de metralhadoras Browning e BAR’s produzidas durante décadas, é fácil ver que as armas de John Moses Browning lutaram a maior parte do tempo para defender a liberdade e acabar com a tirania. O modelo 1911 continuou a servir como arma secundária padrão dos militares americanos durante quase todo o século 20, participou de conflitos como a Guerra da Korea, Vietnam entre outros conflitos.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, milhões de militares retornaram de combate, prontos para aproveitar sua nova vida de paz e prosperidade. Com a prosperidade pós-guerra era tempo de lazer e recreação, o esporte do tiro teve um BOOM nessa época! Clubes de tiro e ligas começaram a abrir em cada canto do país, em cada cidade.

Este é o fim da primeira parte de nosso artigo, a segunda parte vem logo mais, fiquem ligados em nosso blog.

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