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TAURUS USA PASSA A PRODUZIR G2C E TS9

por Ricardo M. Andrade
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taurus usa

A empresa Taurus Armas, fabricante brasileira de armas de fogo, anunciou no dia 08/05/2020 que a linha de montagem das pistolas G2C e TS9 será transferida para sua fábrica nos EUA, em Bainbridge, no estado da Georgia.

A NOVA FÁBRICA

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A fábrica da Taurus nos EUA foi transferida de Miami – FL para Bainbridge – GA, e inaugurada no dia 5 de dezembro de 2019, com capacidade produtiva de até 800 mil armas ano, cerca de 2.200 armas por dia, produzindo até então os modelos TX22, PT22, e Spectrum, além dos revólveres da Heritage Manufacturing Inc. (marca de revólveres de ação simples adquirida pela Taurus em maio de 2012.).

A partir de 2020 a fábrica na Georgia passará a produzir também alguns modelos fabricados e vendidos no Brasil, como é o caso da TS9 e G2C, e passará a trabalhar com cerca de 50% da sua capacidade produtiva total. Em entrevista concedida ao blog, Salésio Nuhs, presidente da Taurus Armas S/A, disse:

“Uma vez com a linha de produção implantada na nossa fábrica na Georgia (EUA), fabricaremos todos os modelos dessa plataforma, de acordo com a demanda. Provavelmente a falta de isonomia tributária e regulatória nos forçará a exportar estes modelos para atender as licitações públicas e enquanto dependermos de RETEX, já que o importado não tem essa necessidade.“

Ou seja, toda a linha TS, como TS9, TS9C, TS40 e TS40C, além da G3 serão produzidas em solo americano. Apesar dessas mudanças, estes modelos continuarão a ser fabricados no Brasil. As demais armas da Taurus, como o fuzil T4, linha TH e série metálica, além de seus revólveres, não terão sua linha transferida para os EUA:

“Neste momento não existem planos de montar a linha TH e fuzil nos EUA, precisamos preservar os empregos diretos e indiretos das famílias que atualmente trabalham na Taurus.“

Disse Salesio Nuhs

DEMORA PARA HOMOLOGAÇÃO DE PRODUTOS

Ainda de acordo com Nuhs:

“Nos últimos anos essa administração (da Taurus) focou muito no desenvolvimento de novos produtos e novas tecnologias, isso gerou uma demanda maior. Hoje temos na fila (de homologação no CAEX) cerca de 180 novos produtos. Pela média dos últimos anos, se nada acontecer, vai demorar aproximadamente 20 anos até que o último produto da fila de hoje seja avaliado. Essa situação precisa ser imediatamente resolvida, sob pena de perder tecnologia sob domínio nacional, o que nessa área de defesa é fundamental para qualquer país desenvolvido.”

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Em visita à Taurus em 2017 estive com o T4.03

A homologação pelo CAEX é um passo obrigatório para que o armamento seja vendido no Brasil. Dentre os modelos aguardando avaliação podemos citar a nova pistola G3, PT 1911 Comander em .45 ACP, PT 1911 em 9mm, TS40, TS9C e TS40C, além de versões mais táticas do fuzil Taurus T4, como o T4.03 e diversos outros modelos que, apesar de prontos, não podem ser vendidos em solo nacional.

Esse procedimento junto ao CAEX não é necessário nos EUA, onde um projeto novo é avaliado e liberado pela ATF (Alcohol Tobacco and Firearms) num prazo médio de 2 semanas. E mudanças que não influem no funcionamento ou segurança da arma podem ser feitos sem nenhuma outra avaliação, como a mudança de cor da arma, diferente do Brasil , que toda e qualquer alteração do projeto original deve ser homologado como se fosse uma arma nova.

Ainda em 2017 chegou a ser discutido pelo conselho consultivo da DFPC a possibilidade de abertura de laboratórios privados para teste e liberação de armas. A DFPC chegou a concordar com a ideia e publicar portarias, mas não houve, até então, regulamentação para a instalação destes laboratórios. De acordo com Salésio Nuhs:

“A ANIAM está preparada para atender a demanda das empresas afiliadas para homologações dos seus produtos, apenas aguardando a regulamentação deste tema.“

Por conta de toda a burocracia envolvida na liberação para venda de armas no Brasil e em conjunto com a alta carga tributária que incidem sobre os valores das armas, principalmente para vendas governamentais, a Taurus resolveu transferir a linha de produção destes modelos para os EUA. Dessa forma poderá concorrer de igual para igual com fabricantes estrangeiras nos pregões nacionais.

Taurus G3, apresentada na LAAD 2019,
ainda aguarda liberação do CAEX para ser vendida no Brasil.

É sabido que as armas importadas, além de não terem que se submeter a homologação do Exército Brasileiro, tem isonomia fiscal de alguns impostos fazendo com que os preços praticados sejam mais baixos do que uma arma fabricada no Brasil, além de ter maior facilidade para alterar projetos para atender aos pregões, como foi feito pela vencedora do ultimo pregão de pistolas da PMESP, onde ela adicionou uma trava externa na arma para atender às exigências da licitação, algo que seria impossível de se fazer com uma arma produzida pela Taurus ou qualquer outra indústria nacional. Além disso, poderá atender com maior facilidade o mercado americano, que, como todos sabem, é o maior do mundo.

NECESSIDADE DE MUDANÇA

Ainda de acordo com Salésio não haverá perda de mão de obra na fábrica no Brasil e não há pretensão da Taurus abandonar o país ou parar de fabricar seus modelos em solo nacional:

“Somos uma empresa brasileira, temos orgulho do nosso país e iremos continuar gerando empregos e arrecadando impostos. A Taurus continuará fabricando no Brasil, 4.300 armas por dia, com todo o portfólio atual, inclusive as pistolas TS9-Striker e G2C, e atendendo a demanda no mercado brasileiro com agilidade, qualidade e compromisso com a excelência. Essa política estratégica só mudará em último caso, se não conseguirmos mais superar essa discriminação tributaria e regulatória. ”

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TS40C, arma ainda em avaliação pelo CAEX

É notório a necessidade de modernização nos processos de homologação de projetos pelo Exército Brasileiro, que tornam impraticável a situação atual. Todos nós sabemos que assim como a Taurus, outras empresas nacionais possuem projetos que aguardam a anos sua homologação, alguns projetos estavam na fila há mais de 18 anos, e a empresa desistiu de sua homologação, pois caso fosse aprovado hoje o projeto já estaria com tecnologia defasada. Faltam palavras para descrever o tamanho desse absurdo com as empresas e com o consumidor.

Caso os procedimentos de homologação de produtos por parte do CAEX não sejam modernizados, a chance de novas indústrias se instalarem no Brasil vai continuar pequena, além de afastar do nosso território as poucas que já temos. Essas mudanças são claramente urgentes, já que a diminuição ou mudança da fabricação no nosso território além de poder causar desemprego, vai também aumentar o valor das armas, que podem passar a ser tão somente importadas, elitizando ainda mais o esporte do tiro no Brasil.

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