A Colt, empresa lendária e centenária no mundo das armas, tem problemas financeiros que se acentuaram desde 2013, quando perdeu seu maior contrato com o governo dos EUA. A Colt fornecia fuzis M4 para as forças armadas americanas, mas perdeu esse contrato para a belga FN, empresa tao renomada quanto a Colt.
Isso foi o estopim para a Colt entrar com pedido de Chapter 11 (tipo de concordata) e começar a reestruturação de suas finanças. Portanto, eles correm o perigo de fechar? Novamente, sim e não. Minha opinião é, mesmo que a empresa atual não consiga se recuperar, é muito provável que a marca e seus ativos sejam simplesmente vendidos para outros investidores. O risco de não vermos mais a marca Colt em novas armas é mínimo.
Isso é muito comum nos EUA. A empresa entra com Chapter 11, tenta uma reestruturação, muitas voltam fortes, algumas falem. O interesse dos credores (geralmente grandes bancos) é muito grande na empresa não falir. Eles podem propor uma administração nova, abrir novas linhas de crédito e reestruturação. Mas, mesmo se falir, com uma marca tão forte, a tendência é ser adquirida e voltar a operar, muitas vezes sem fechar nem um dia.
Na minha opinião, o que aconteceu com a Colt é a mesma coisa que acontece com muitas empresas que não conseguem se adaptar à mudanças no mercado. Uma cegueira arrogante, de quem acha que é muito grande para fracassar, que pode se esconder atrás de uma marca. Isso acontece em qualquer ramo de negócios, como aconteceu com a maioria das grandes empresas automobilísticas americanas, que voltaram com mais força depois de se reorganizarem.
Com a Colt provavelmente vai ser a mesma coisa. Eles ignoram completamente o mercado civil, apostando forte em um só contrato com o governo americano. Enquanto isso, empresas inovadoras, como Glock, FN, H&K, e até a americana S&W, investiram em produtos que praticamente tiraram do uso policial as 1911s. Mesmo no mercado das tradicionais 1911s, a Colt hoje é só mais uma fabricante, quando se pensa em uma 1911 “premium” se pensa em outras marcas, como Wilson Combat. A mesma coisa com fuzis AR15, a Colt me vem à cabeça, mas pelo mesmo dinheiro eu posso comprar um fuzil melhor de outra marca renomada, como Daniel Defense, ou BCM.
Em 2008 aconteceu grande pressão por parte da administração Obama e dos Democratas no congresso americano por mais controle de armas. Apesar dessa iniciativa ter fracassado, o mercado civil respondeu em peso. Armas e munições simplesmente desapareceram das prateleiras, foi o boom da compra de armas, que parece que ainda não passou. E a Colt? Ela deixou passar essa oportunidade de ouro por não investir pesado na fabricação de um fuzil intermediário e acessível para civis, ou numa 1911 com mais capacidade e com preço mais razoável. Se tivessem feito uma versão “Sport” de seus M4s durante essa época, teriam vendido muito e reestabelecido a marca, principalmente com novos atiradores, que somam mais de 10 milhões nos últimos anos.
Quando se pensa em uma marca de arma moderna, o nome Colt não vem a cabeça. Isso é um grande desafio à fabricante de uma pistola que seu projeto possui mais de 100 anos e um fuzil com um projeto também antigo. Já a FN? Quantos novos produtos eles lançaram? Five Seven, FNX, FNS, SCAR, P90, F2000, a lista é enorme. E a Colt? Nada. Aí está um dos grandes problemas deles. A galinha dos ovos de ouro morreu, agora estão tentando correr atrás do prejuízo, que só vai acontecer com o mercado civil e policial. Isso se conseguirem colocar produtos atrativos no mercado.
Porém, eu tenho certeza que a empresa vai dar a volta por cima. Como disse acima, a marca vai sobreviver, assim como os ativos e alguns funcionários. O que vai mudar é sua administração. Qual estratégia vai adotar? Não sei. Mas recentemente notei uma grande quantidade de modelos de 1911 que até recentemente não via mais para vender, e melhor, com preço mais acessível. Espero que eles também soltem algumas versões mais modernas e que invistam em desenvolvimento de novos produtos.
Mas em suma:
A Colt pode falir? Sim.
A Colt vai morrer? Não.
2 Comentarios
Muito bom o artigo. Realmente a colt errou por desprezar o mercado civil. Ficar muito dependente de poucos contratos com o governo é arriscado… Assim como o governo erra em desprezar o “civil” no Brasil. Todo o grande atirador, Simo Häyhä, Chris Kyle, etc; teve contato com armas de fogo muito antes de entrar pro exército. A prática de tiro esportivo faz bem para a soberania de qualquer país. Bem como ser fácil desenvolver armas. Já imaginaram se o Ronnie Barrett tivesse nascido no Brasil? Seria fotógrafo até hoje…
Excelente post, continuem sendo.