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A Colt está falida? Sim e não.

por Ricardo M. Andrade
4 Minutos de leitura

A Colt, empresa lendária e centenária no mundo das armas, tem problemas financeiros que se acentuaram desde 2013, quando perdeu seu maior contrato com o governo dos EUA. A Colt fornecia fuzis M4 para as forças armadas americanas, mas perdeu esse contrato para a belga FN, empresa tao renomada quanto a Colt.

Isso foi o estopim para a Colt entrar com pedido de Chapter 11 (tipo de concordata) e começar a reestruturação de suas finanças. Portanto, eles correm o perigo de fechar? Novamente, sim e não. Minha opinião é, mesmo que a empresa atual não consiga se recuperar, é muito provável que a marca e seus ativos sejam simplesmente vendidos para outros investidores. O risco de não vermos mais a marca Colt em novas armas é mínimo.

Isso é muito comum nos EUA. A empresa entra com Chapter 11, tenta uma reestruturação, muitas voltam fortes, algumas falem. O interesse dos credores (geralmente grandes bancos) é muito grande na empresa não falir. Eles podem propor uma administração nova, abrir novas linhas de crédito e reestruturação. Mas, mesmo se falir, com uma marca tão forte, a tendência é ser adquirida e voltar a operar, muitas vezes sem fechar nem um dia.

Na minha opinião, o que aconteceu com a Colt é a mesma coisa que acontece com muitas empresas que não conseguem se adaptar à mudanças no mercado. Uma cegueira arrogante, de quem acha que é muito grande para fracassar, que pode se esconder atrás de uma marca. Isso acontece em qualquer ramo de negócios, como aconteceu com a maioria das grandes empresas automobilísticas americanas, que voltaram com mais força depois de se reorganizarem.

Com a Colt provavelmente vai ser a mesma coisa. Eles ignoram completamente o mercado civil, apostando forte em um só contrato com o governo americano. Enquanto isso, empresas inovadoras, como Glock, FN, H&K, e até a americana S&W, investiram em produtos que praticamente tiraram do uso policial as 1911s. Mesmo no mercado das tradicionais 1911s, a Colt hoje é só mais uma fabricante, quando se pensa em uma 1911 “premium” se pensa em outras marcas, como Wilson Combat. A mesma coisa com fuzis AR15, a Colt me vem à cabeça, mas pelo mesmo dinheiro eu posso comprar um fuzil melhor de outra marca renomada, como Daniel Defense, ou BCM.

Colion Noir disparando uma Daniel Defense DDM4 V1

Colion Noir disparando uma Daniel Defense DDM4 V1 em 5,56x45mm NATO

Em 2008 aconteceu grande pressão por parte da administração Obama e dos Democratas no congresso americano por mais controle de armas. Apesar dessa iniciativa ter fracassado, o mercado civil respondeu em peso. Armas e munições simplesmente desapareceram das prateleiras, foi o boom da compra de armas, que parece que ainda não passou. E a Colt? Ela deixou passar essa oportunidade de ouro por não investir pesado na fabricação de um fuzil intermediário e acessível para civis, ou numa 1911 com mais capacidade e com preço mais razoável. Se tivessem feito uma versão “Sport” de seus M4s durante essa época, teriam vendido muito e reestabelecido a marca, principalmente com novos atiradores, que somam mais de 10 milhões nos últimos anos.

Colt-LogoQuando se pensa em uma marca de arma moderna, o nome Colt não vem a cabeça. Isso é um grande desafio à fabricante de uma pistola que seu projeto possui mais de 100 anos e um fuzil com um projeto também antigo. Já a FN? Quantos novos produtos eles lançaram? Five Seven, FNX, FNS, SCAR, P90, F2000, a lista é enorme. E a Colt? Nada. Aí está um dos grandes problemas deles. A galinha dos ovos de ouro morreu, agora estão tentando correr atrás do prejuízo, que só vai acontecer com o mercado civil e policial. Isso se conseguirem colocar produtos atrativos no mercado.

Porém, eu tenho certeza que a empresa vai dar a volta por cima. Como disse acima, a marca vai sobreviver, assim como os ativos e alguns funcionários. O que vai mudar é sua administração. Qual estratégia vai adotar? Não sei. Mas recentemente notei uma grande quantidade de modelos de 1911 que até recentemente não via mais para vender, e melhor, com preço mais acessível. Espero que eles também soltem algumas versões mais modernas e que invistam em desenvolvimento de novos produtos.

Mas em suma:

A Colt pode falir? Sim.

A Colt vai morrer? Não.

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2 Comentarios

Victor 23/11/2015 - 17:11

Muito bom o artigo. Realmente a colt errou por desprezar o mercado civil. Ficar muito dependente de poucos contratos com o governo é arriscado… Assim como o governo erra em desprezar o “civil” no Brasil. Todo o grande atirador, Simo Häyhä, Chris Kyle, etc; teve contato com armas de fogo muito antes de entrar pro exército. A prática de tiro esportivo faz bem para a soberania de qualquer país. Bem como ser fácil desenvolver armas. Já imaginaram se o Ronnie Barrett tivesse nascido no Brasil? Seria fotógrafo até hoje…

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Júlio Lacerda 24/11/2015 - 08:19

Excelente post, continuem sendo.

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