O vocalista da banda “Eagles of Death Metal”, a banda que tocava na boate Bataclan e que presenciou a morte de 90 pessoas durante o ataque terrorista em Paris, lembrou, em uma entrevista cedida à iTelé (rede de telvisão francesa), do medo ao encontrar um terrorista armado atrás do palco, e disse ser favorável ao livre acesso às armas por pessoas de todo o mundo.
A banda californiana estava se apresentando diante de um público de pouco mais de 1500 pessoas na noite de 13 de novembro de 2015, quando terroristas armados com fuzis e granadas entraram no local e começaram a disparar contra o público.
Como todos sabem, o Bataclan foi um dos pontos dos ataques em Paris. Mais tarde o grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS – sigla em inglês) assumiu a autoria pelo ato.
O vocalista e guitarrista Jesse Hughes, é a muito tempo um militante pelo livre acesso às armas. Em uma entrevista de 19 minutos cedida á televisão francesa iTelé, ele, com a voz já embargada pela emoção, disse que as leis restritivas de acesso às armas da França ajudaram o ataque a ser bem sucedido.
Quando perguntaram se sua visão sobre o controle de armas havia mudado após o episódio, o membro da NRA disse que o controle de armas “não tem nada haver com o isso.”
“Suas leis francesas sobre o controle de armas impediram que uma porra de pessoa morresse no Bataclan aquele dia? Se qualquer pessoa puder responder ‘SIM!’, eu gostaria de ouvir, porque eu não acho que seja verdade. Eu acho que as únicas pessoas que impediram mais pessoas de morrerem foram alguns dos homens mais corajosos que já conheci na minha vida, que enfrentaram a morte com suas armas de fogo.”
“Eu sei que algumas pessoas irão discordar, mas parece que Deus fez homens e mulheres, e naquela noite as armas os tornou iguais,” disse ele. “E eu odeio que tenha que ser desta forma. Eu acho que a única coisa que eu tenha mudado minha visão é que agora eu acho que enquanto TODAS as pessoas não possam ser desarmadas TODAS devem ter armas.”
“Eu quero que todas as pessoas possam ter acesso às armas, eu vi pessoas morrerem que talvez pudessem ter sobrevivido, sei lá.”
Em um comentário feito à “Agence France-Press”, Hughes disse: “Eu não vou mais a lugar algum sem uma arma. Isso é uma merda. Eu não sou paranoico. Não sou um ‘cowboy’… Mas eu quero estar preparado.”
A “Eagles of Death Metal” irá fazer um novo show em Paris no Paris’ Olympia, com soldados e policiais armados, psicólogos e psiquiatras para darem apoio ao evento e aos fãs traumatizados. Os sobreviventes do ataque receberam ingressos grátis para a performance.
A boate O Bataclan ainda não reabriu, mas seus donos disseram que novos eventos serão feitos antes do fim de 2016.
Hughes disse à iTelé que ele sentia uma grande responsabilidade em terminar o show que começou naquela noite. Em sua entrevista à France-Press que esperava que este fosse apenas mais um show comum de rock, apesar da área ao redor do evento estar totalmente cercada pela polícia, e ter psicólogos e psiquiatras prontos a ajudar quem quer que seja que não se sinta bem emocionalmente durante o show. Um dos psicólogos que tem tratado algumas vitimas dos ataques disse que o show poderia despertar um ataque de pânico nas pessoas.
“Rock n’ Roll sempre foi uma diversão e eu não vou deixar que ninguém tire isso de mim ou de meus amigos novamente”, disse Hughes, se referindo aos fãs da banda.
Em outra entrevista cedida à televisão Sueca Sweeden’s TV4, no domingo, Hughes relembrou que os tiros coincidentemente começaram após “a última nota da música – quase um sincronismo diabólico”.
“Eu sabia exatamente o que estava acontecendo. Talvez eu fosse a única pessoa que soube imediatamente do que se tratava.”
Ele foi para trás do palco para procurar seu amigo Tuesday Cross e viu um terrorista no final do corredor com um fuzil nas mãos. “Ele não me viu, a porta fechou logo atrás de mim, eu estava tentando me levantar bem devagar – mas aí ele me viu e eu achei que estaria morto. “Eu esperei pelo tiro me atingir. Quando ele ia abaixar a arma para atirar o cano da arma atingiu a lateral da porta, graças a Deus. E quando o cano bateu na lateral eu abri a porta e ele começou a atirar, mas seus tiros fecharam a porta que estava logo atrás de mim.”
Quase totalmente tomado por emoção, Hughes ainda se lembrou das “lindas” cenas que viu, pessoas ajudando umas às outras dentro do Bataclan. “Eu sei que isso é terrível, mas… eu não vi ninguém ser covarde. Eu apenas vi pessoas fazendo umas das coisas mais bonitas que alguém pode fazer, e por falta de uma melhor maneira de dizer, meus amigos morreram de uma forma muito bonita. Eles morreram bem, com coragem.”
Este texto foi traduzido e adaptado pelo autor deste site.
Fonte: The Guardian