Neste artigo abordaremos as principais entidades que regulam a prática do tiro esportivo no mundo e vamos traçar os paralelos com o Brasil.
Hoje podemos dividir o tiro esportivo em duas grandes organizações mundiais:
Apesar de não ter uma abrangência mundial tão significativa também falarei um pouco das entidades de tiro defensivo a International Defensive Pistol Associaton (IDPA) e International Defensive Shooting Confederation (IDSC), categoria do tiro esportivo tem ganhado muitos adeptos no Brasil.
International Shooting Sport Federation (ISSF)
A ISSF é a organização que regula as competições olímpicas de pistola, carabina e tiro ao prato assim como diversas modalidades não olímpicas. No escopo dos jogos olímpicos é a responsável pela qualificação e organização de competições internacionais de classificação e das próprias provas olímpicas de tiro esportivo.
No Brasil a ISSF é representada pela Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) e suas respectivas Federações Estaduais de Tiro Esportivo e do Distrito Federal, as quais além de suportarem o desenvolvimento dos atletas olímpicos também suportam modalidades não olímpicas de tiro como Field Target e Duelo 20 segundos. É importante ressaltar que dentre as modalidades suportadas pela CBTE existem provas com armas de ar comprimido e armas de fogo.
A possibilidade de uso de armas de ar comprimido abre a possibilidade para jovens interessados no tiro esportivo começarem a participar do esporte com menor custo e burocracia.
Apesar do fácil acesso a iniciantes no tiro esportivo, armas de ar comprimido de nível olímpico atingem preços elevados e as exigências de treinamento também são extremamente elevadas enfocando, além da óbvia excelência na execução do tiro, o treinamento da parte muscular e psíquica do atleta também são necessários.
A seguir, a excelente Steyr LG110 no modelo de Field Target que custa mais de 2.000 euros.
International Practical Shooting Confederation (IPSC)
A IPSC é a segunda maior organização de tiro esportivo e a maior no tiro prático, fundada em 1976, sua sede é em Amsterdã, na Holanda e possui representação em mais de 100 países.
Quando falamos da IPSC é necessária uma breve explicação sobre as origens do tiro prático, conhecido também como tiro dinâmico ou tiro de ação. Ele nasceu do resultado das experimentações de uso de armas de defesa pessoal e as suas primeiras competições de saque-rápido ocorreram na década de 50.
Nos Estados Unidos muitas técnicas foram criadas dentro destas competições de tiro esportivo e contribuíram imensamente para o uso das armas de fogo, fazendo história e sendo úteis até os dias atuais, como exemplo temos a posição Weaver de tiro criada por Jack Weaver. Até aquela época a posição de tiro com armas curtas majoritariamente utilizada era com apenas uma mão, mas a posição Weaver provou-se mais efetiva, sendo assim, adotada pelo FBI e por diversas polícias até ter seu uso disseminado globalmente.
Jeff Cooper foi um dos grandes incentivadores e praticante destas provas, desenvolvendo significativo material sobre técnicas de uso de pistolas. Ele formulou a tese dos “5 elementos para uso efetivo de pistola” (Tradução do autor para The five elements of the modern technique) e conceituou as condições de prontidão para armas de fogo (Firearm conditions of readiness).
Cooper também focou no tema do uso da arma como elemento de autodefesa em seu livro “Principles of Personal Defense” (a venda na Amazon) e na criação das técnicas descritas em “The Carry Book” por Joel Rosemberg (a venda na Amazon), onde formulou a tese de que “A ferramenta mais importante para sobreviver a um confronto, não são as armas ou habilidades em lutas. A principal ferramenta é a atitude de combate” (tradução do autor), complementada com a técnica dos estados mentais baseados em cores, que ele considerou um exercício mandatório para aqueles que portam armas de fogo.
Explorar os limites do uso das armas e os cenários de uso, que muitas vezes simulavam o uso de armas em condições de defesa, fez com que esta modalidade de tiro esportivo, o tiro prático, fosse muito reconhecido e possuísse uma grande legião de atiradores, fazendo com que em 1975 ocorresse o primeiro IPSC World Championship e no ano seguinte a IPSC fosse criada em uma reunião ocorrida em Columbia, EUA.
No Brasil a Confederação Brasileira de Tiro Prático (CBTP) é a responsável por coordenar as provas de IPSC em nível nacional e as diversas outras modalidades de tiro prático como por exemplo Silhuetas metálicas, Steel Challenge e Pólvora Negra.
Nos Estados Unidos a United States Practical Shooting Association (USPSA) é a responsável pela execução das provas de IPSC , mas ela também tem competições próprias com características bem semelhantes as da IPSC e também possui um grupo de entidades internacionais (cada vez menor) associadas a ela, ou seja a USPSA apesar de representar a IPSC nos EUA, também concorre com a própria IPSC tanto em solo americano, como no exterior, pelo mercado de tiro prático. Fora dos EUA a USPSA chegou a ter representação em 14 países, mas vem deixando essa estratégia de lado e focando no mercado interno do tiro prático.
Para quem leu o artigo sobre o filme John Wick 2 e a Glock G34, talvez agora fique mais simples de entender o porquê das frequentes dúvidas a respeito da classificação da G34, pois quando ocorre uma prova da IPSC nos EUA, tal prova é coordenada pela USPSA e nesse momento a G34 está classificada como “Standard”, entretanto se for um evento da USPSA, a mesma Glock será classificada como “Production”.
International Defensive Pistol Associaton (IDPA)
A IDPA foi criada em 1996 sob a tese de que o tiro prático, representado majoritariamente pela IPSC, se desviou do caminho de prover competições onde as pessoas pudessem utilizar armas, equipamentos e acessórios comuns para competir. Com isso em mente a IDPA criou um regramento focado na simulação de situações de defesa e uso de armas com o mínimo de customização, sendo famosa a necessidade de que a arma esteja acomodada em um coldre de serviço ou defesa e que a arma esteja velada por uma jaqueta, camisa ou colete.
A IDPA não tem um órgão de representação no Brasil, atualmente a Confederação Brasileira de Tiro Defensivo e Caça (CBTD) é afiliada a International Defensive Shooting Confederation (IDSC) a qual promove os mesmos princípios da IDPA.
A IDSC foi criada em 2010 nos EUA e logo adotada no Brasil pela CBTD, sendo uma modalidade de tiro esportivo em grande expansão no mercado Brasileiro face ao seu baixo custo, se comparada as modalidades de IPSC. O IDSC não possui federações estaduais, possui provas mais curtas e com menores desafios técnicos e privilegia a simulação de situações de defesa, o que tem um forte apelo e facilita a entrada de novos praticantes.
Por outro lado, observa-se que os regramentos da IDSC apresentam um nível de subjetividade maior que o das provas de IPSC, visando obrigar o praticante desta modalidade de tiro esportivo a simular o cuidado com sua própria proteção em uma situação de defesa, recaindo assim sobre os juízes uma grande responsabilidade na pontuação dos atletas.