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Pane em pistolas – Quando Segundos Viram Horas

por Ricardo M. Andrade
5 Minutos de leitura

A VW Parati que fugia com os quatros bandidos passa no contra fluxo da estrada, em alta velocidade. De imediato o motorista da viatura faz meia volta e começa o acompanhamento pela estrada de mão dupla, na área rural de Sumaré – SP. No final da estrada, tendo que escolher qual lado tomar, resolveram ir para a direita e entraram na estrada Norma Marson Biondo, sentido a Monte Mor – SP, quase perdendo o controle do veículo. A uns 20 metros de entrar na estrada, no encalço dos bandidos, visualizei uma motocicleta de RPM (Rádio Patrulha de Motocicleta) passando logo atrás da Parati cor vinho, sendo que logo após entramos na estrada, seguidos de outra RPM, que logo nos ultrapassou, no instante em que a Space Fox em que eu estava retomava a velocidade, ficando as duas motos logo atrás do veiculo em fuga. A exatos quatrocentos metros os bandidos tentaram entrar a direita, em uma estrada que passava no meio de um canavial, mas perderam o controle do veículo e caíram em uma valeta, batendo violentamente. Ao me aproximar do local já vi os policiais das motos desembarcando muito rápido, um deles até deixou a moto cair e ouvi disparos, muitos disparos de arma de fogo.

parati

VW Parati envolvida no crime após o término da troca de tiros.

A uma distância de uns 40 metros, o motorista da minha viatura parou e desembarcamos no piso enlameado do acostamento não pavimentado da estrada, sendo que também fomos recebidos a tiros e de imediato, assim como os policiais da RPM, também revidamos com disparos de calibre .40 S&W. Senti um disparo acertar o chão próximo a mim, mas continuei atirando, logo percebi que não estava saindo mais estampidos de minha arma. Mesmo em instantes de muita tensão e estresse que, até então, em quase nove anos na PMESP nunca tinha passado antes, olhei e notei que minha arma tinha “engasgado”, parando aberta em pane de “dupla alimentação”. De imediato ajoelhei para reduzir a minha silhueta e, quase que mecanicamente por impulso e condicionamento, comecei os 5 a 6 segundos mais longos de minha vida, onde tive que sanar o problema apresentado pela arma, enquanto outro disparo acertava o chão ainda mais perto, jogando terra no meu rosto. Após a pane ser sanada voltei a disparar contra os criminosos. Meu parceiro sustentou fogo, me deu cobertura o tempo todo, juntamente com um dos policiais da RPM, até verem que não vinham mais disparos por parte dos bandidos. No desfecho da ocorrência, um homem foi preso e outro acabou morto sendo que outros dois fugiram no meio do canavial, um portando um revólver e o outro uma espingarda CBC 586.2 em 12GA. Todo o dinheiro levado da granja que tinha sido tomada de roubo e os cheques foram recuperados.

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Pistola com dupla alimentação

Após os momentos de tensão passados por mim, resolvi, após pedido do Ricardo, criador do blog, falar um pouco sobre o que presenciei. Vi que é um assunto pouco abordado em sites e grupos de discussão sobre armas, é exatamente como sanar panes em armamentos. Não vou aqui demonstrar passo a passo como sanar cada tipo de pane de cada tipo de armamento, até porque não sou instrutor de tiro para falar exatamente como ser feito, contudo, coloco a todos os leitores a importância de se conhecer não todas as armas e suas histórias, mas sim conhecer muito bem a arma com a qual você trabalha e/ou possui, pois não existem horas certas para se deparar com tais problemas.

É fato que algumas armas apresentam mais panes que outras (sem citar marcas e modelos), entretanto, o conhecimento de como resolver essa panes é o que pode fazer a diferença entre você viver ou morrer (ou de seus parceiros).


Vídeo do Alexandre Lima mostrando as panes que uma pistola pode apresentar e como sanar cada uma delas.

Apenas para conhecimento, a pistola que eu postava naquele dia havia sido limpa e lubrificada, por mim mesmo, no dia anterior, e a munição era de um lote novo da PMESP, o que já coloca este incidente realmente entre casos fortuitos, ainda mais que a pistola não deu mais que mil disparos em toda sua vida útil (tenho posse de carga da arma desde que ela foi adquirida pela PMESP, logo, nunca foi disparada por outras pessoas ou sofreu qualquer estresse mecânico demasiado), o que significa que é uma arma relativamente nova quanto ao número de disparos.

Então esta semana deixo a dica aos colegas atiradores: Pratiquem, além do tiro, a forma mais rápida e segura de sanar as panes que sua(s) arma(s) podem vir a apresentar, e nunca confiem totalmente em um mecanismo, pois todos são passíveis de falhas mecânicas.

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4 Comentarios

plinio almeida 03/06/2016 - 20:50

muito bom!!!

Resposta
JORGE ROSA 15/07/2016 - 16:59

PARABENS PELA PUBLICAÇÃO, VOU ACESSAR MAIS VEZES.

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Gustavo 08/03/2018 - 23:40

Qual o modelo de pistola .40 utilizado por você na ação companheiro, só por curiosidade?

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Ricardo M. Andrade 09/03/2018 - 14:09

PT24/7, lembrando que o texto foi escrito pelo policial Carlos Toledo, e não por mim.

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