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CIVIS COM PORTE DE ARMA REALMENTE PODEM PARAR TIROTEIOS EM MASSA?

por Ricardo M. Andrade
10 Minutos de leitura

Nós que sempre pregamos pela liberação ou facilitação da posse e porte de armas, quando contra argumentados que estas medidas farão com que tiroteios em massa possam aumentar, normalmente rebatemos dizendo que não, que na verdade, serão estes cidadãos, devidamente e legalmente armados que poderão PARAR estes agressores. Entretanto, sempre somos confrontados com pedidos de exemplos de algum caso em que pessoas com porte de arma, de fato impediram um tiroteio em massa de acontecer.

Apesar de ser um pouco difícil encontrar estes exemplos, eles existem, entretanto, pelo fato de a maioria dos tiroteios em massa ocorrerem em Zonas Livre de Armas (Gun Free-Zones), estes exemplos não ocorrem com tanta frequência  principalmente visto que cidadãos que obedecem a lei, simplesmente não portam suas armas nestes lugares, afinal de contas é exatamente isso que nos distingue de um criminoso ou de um maluco:  a capacidade de entender, interpretar e respeitar o que está escrito em um pedaço de papel, ou a vontade do dono do estabelecimento em questão, mesmo que muitas vezes ninguém nunca vá saber se existe alguém armado ali. Além de tudo isso, não existe uma base de dados oficial mostrando quantos tiroteios em massa foram parados por pessoas que possuem porte de arma e também alguns exemplos são ambíguos e não são totalmente claros de que se tratava realmente de um tiroteio em massa, pois o assassino foi parado antes de ferir muitas vítimas.

Listarei abaixo alguns casos de malucos/assassinos que foram parados por CIVIS legalmente armados, mas desta lista foram excluídos casos de policiais fora de serviço que cometeram este ato heroico. Nessa lista temos apenas alguns exemplos onde pessoas comuns (ou no máximo ex policiais ou militares agindo como civis) com porte de arma pararam uma agressão que poderia ser ainda maior caso não estivessem ali.

1. O caso mais recente, ocorreu no início desse ano, quando em Chicago um motorista da Uber, que tinha porte de arma, e a porta, atirou e feriu um homem que havia aberto fogo contra uma multidão.

2. Na Filadélfia, também no inicio deste ano, Warren Edwards abriu fogo contra clientes de uma barbearia após uma discussão. Outro homem, que possuía porte de arma, atirou contra o assassino. Obviamente é impossível dizer se o maluco continuaria atirando contra pessoas aleatórias se ele não fosse parado, porém, o Capitão de polícia daquela cidade disse: “eu acho que ele salvou muitas pessoas da morte naquele lugar.”

3. Em um hospital próximo a Filadelfia, em 2014, Richard Plotts atirou e matou o psiquiatra com quem realizava sessões; atirou e feriu também outro psiquiatra, Lee Silverman. Silverman revidou fogo e derrubou Plotts. Não é certo se Plotts continuaria fazendo vítimas, mas o Chefe de polícia de Delaware County, Jack Whelan disse que “se o doutor não tivesse uma arma de fogo e/ou não a utilizasse, com toda certeza ele e outras pessoas naquele lugar estariam mortos neste momento.”; O chefe de polícia de Yendon, Donald Molineux também disse que ele “acredita(va) que o doutor salvou vidas.” Plotts ainda portava 39 munições intactas quando foi preso.

porte de arma

Allabugh, após ser preso pela polícia

4. Em Plymouth, Pa., em 2012 em 2012, William Allabaugh matou um homem e feriu outro após uma discussão sobre o mesmo ter sido expulso de um bar. Allabaugh então se aproximou do gerente do bar e Mark Ktytor apontou sua arma para ele; Ktytor, que possuia porte de arma,  então atirou no homem. “A gravação e as evidências revelam que o Sr. Allabaugh se virou e estava se reaproximando do bar. O Sr. Ktytor então agiu, derrubando o agressor. Nós acreditamos que o desfecho daquela noite poderia ter sido muito pior.” disse Jarrett Farentino, sherif da cidade de Luzerne.

5. Próximo a Spartanburg, SC., também em 2012, Jesse Gates foi a sua igreja armado com uma espingarda e chutou a porta. Mas Aaron Guyton, que possuía porte velado de armas, sacou sua pistola e a apontou para Gates, e então outras pessoas o desarmaram. Notem que neste caso, diferente dos outros, existe a possibilidade de que Gates não fosse atirar em ninguém, ele poderia apenas estar levando sua espingarda à igreja, e chutou a porta para chamar atenção.

porte de arma

Sean Barner

6. Em Atlanta, em 2009, Calvin Lavant e Jamal Hill invadiram um apartamento durante uma festa e colocaram todos no chão. Após pegarem vários itens de valor e separar os homens das mulheres, Lavant disse a Hill, “Nós vamos transar com estas mulheres e depois matar todo mundo,” e começaram “a discutir sobre camisinhas e o número de munições que havia em suas armas.” Neste momento, Sean Barner, um militar da marinha norte americana, que estava atendendo o Estado da Georgia como parte de um programa de educação comissionada da marinha, conseguiu pegar a mochila que trazia consigo; pegou sua arma, atirou e afugentou Hill; foi ao quarto ao lado, em que Lavant estava prestes a estuprar uma das mulheres, e foi atingido por um disparo de Lavant, mas revidou fogo. Lavant fugiu, mas morreu logo depois devido aos ferimentos. Uma das mulheres também foi atingida na troca de tiros, mas devido às circunstâncias descritas nas fontes citadas, era muito provável que os criminosos  fossem matar (e estuprar) algumas  ou todas as pessoas se não fossem parados. Este incidente, obviamente envolve um membro das forças armadas e não um civil, então talvez alguém possa não concordar com este caso aqui, mas Barner estava portando sua arma como um civil, não como militar, pois ele possuía porte de arma civil (membros das forças armadas nos EUA não necessariamente tem porte de arma quando não estão em serviço); além disso, se o ataque fosse em uma base militar, provavelmente ele não estaria permitido a portar sua arma, exceto se estivesse fazendo algum trabalho de segurança.

7. Em Winnemucca, Nev., em 2008, Ernesto Villagomez matou duas pessoas e feriu mais duas em um bar lotado com 300 pessoas. Ele foi então alvejado e morto por um dos donos do local que tinha porte de arma e a portava. Não é certo que Villagomez teria matado mais pessoas se não tivesse sido parado; aparentemente o ataque ocorreu por conta de uma rixa familiar, e não há nenhuma informação de que Villagomez tinha outros nomes em sua lista, ou que ele havia matado mais pessoas e tentado escapar.

8. Em Colorado Springs, Colorado, em 2007,  Matthew Murray matou quatro pessoas em uma igreja. Ele foi então alvejado diversas vezes por Jeanne Assam, um membro da igreja, segurança voluntário do local, e ex policial (foi demitido da força policial há mais de 10 anos e desde então nunca mais trabalhou em outra polícia). Murray caiu, e muito ferido suicidou; também não é claro que ele iria matar mais pessoas, mas como ele foi à igreja com mais de 1000 munições para sua arma, acho que podemos tomar algumas conclusões.

9. Em Edinboro, Pa., em 1998, um menino de 14 anos, Andrew Wurst, atirou e matou um professor em uma escola de dança, além de ter atirado e ferido diversos alunos daquela escola. Ele havia acabado de sair da sala de dança, carregando sua arma – provavelmente para atacar mais pessoas – quando foi confrontado por um dos donos do local, James Strand, que morava logo ao lado e possuía uma espingarda. Não é claro. Se Wurst estava planejando matar mais pessoas, se entraria em confronto com a polícia, ou se mataria ainda mais pessoas caso Strand não o tivesse parado.

10. Em Pearl, Miss. em 1997, um menino de 16 anos chamado Luke Woodham esfaqueou e espancou até a morte sua mãe, em casa, matou dois estudantes e feriu outros 7 em sua escola. Quando estava prestes a sair de lá, foi parado pelo sub-diretor Joel Myrick, que havia saído da escola para pegar sua arma no carro. Há fontes que dizem que Woodham estava indo para a Escola Secundária Pearl Junior, para continuar seu ataque, entretanto não há nenhuma fonte nova que confirme esta versão.

É claro que ainda tem muitos casos desconhecidos sobre civis que param tiroteios em massa por estarem armados, mas como já disse, não existem gráficos ou percentuais mostrando quando fatos desse tipo ocorrem e se a posse/porte de arma nos locais eram permitidos. Não existem, também,  gráficos e porcentagens mostrando quantas dessas intervenções preveniram mais mortes e feridos, muito menos a quantidade de assassinos que quando foram presos ou mortos já haviam acabado de cometer sua barbárie, ou até mesmo algum dado que mostre quantas mais mortes e feridos essas intervenções podem causar.

É sempre bom ter em mente que esses tiroteios em massa não devem ser o foco central de uma discussão sobre posse/porte legal de arma, principalmente porque estes tiroteios somam menos de 1% nas taxas de homicídio nos EUA, e são dificilmente evitados por leis de controle de armas (afinal, como eu disse no início desse texto, o que difere estas pessoas de nós, é que eles tem a intenção de matar, eles querem isso, não tem a capacidade de ler, interpretar e respeitar estas leis). Ainda assim, algumas pessoas continuam pedindo exemplos de civis que conseguiram parar um ataque em massa, e foi isso que encontramos.

Para uma explicação do porque o incidente no Shopping Clackamas não foi colocado na lista, veja aqui (link em inglês). Alguns destes incidentes foram retirados de uma lista da Crime Prevention Research Center site.

Este artigo foi baseado neste artigo do Washington Post

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